Dramalhão curitibano
Bo$$ in Drama, a one-man-dance-band de Péricles Martins
País: Brasil
Estilo: Clube / Jungle / Happy Hardcre
Myspace: www.myspace.com/bossindrama
Dramalhão curitibano
Por Cirilo Dias
Aos 20 anos, Péricles Martins já é o novo queridinho da cena eletrônica. Tudo culpa do seu Bo$$ in Drama, alcunha criada pelo próprio para as apresentações insanas, onde assume o vocal, sobe em caixas de som, e não deixa uma alma sequer parada nas pistas de dança. Péricles faz tudo sozinho, grava, produz, marca show, mixa, remixa e canta, tudo utilizando um equipamento de fazer muito marmanjo metido a produtor chorar: "um microfoninho de cincão". É o famoso "do it yourself", só que caprichado. De Curitiba (PR), sua cidade natal, Péricles conversou por telefone com a Trip. Leia e aproveite.
É cada vez mais freqüente te chamarem de "a nova promessa da música brasileira". Esse rótuto te dá um certo medo?
Eu penso assim: eu estou fazendo o que gosto, nunca fiz música com pretensão, tipo "porra, quero fazer sucesso, vou fazer um hit". Mas acho mega bacana as pessoas confiarem no meu trabalho e gostarem. Se elas botam a cara pra bater apostando na minha música, não é uma pretensão só minha, e uma pretensão da mídia que está falando que sou uma promessa. É bacana quando alguém confia no teu trabalho e fala esse tipo de coisa ou faz bons comentários, mesmo porque aquilo que eu faço, gravar, cantar, produzir, não é muita gente que fez. E olha que eu não canto nada, eu só faço um rap, uma linha de vocais que dá certo com minha voz. Tudo começou como uma brincadeira, aí as pessoas vêem e falam "nossa, como você canta bem". Foi uma coisa que eu fiz porque eu amo e me divirto fazendo isso.
E você faz tudo isso na sua casa utilizando apenas um computador e aqueles microfoninhos vagabundos, né?
Eu tenho um segredo, porque como uso um microfone mega tosco, eu gravo e ele fica ok. Os microfones profissionais captam ar e tal, já os vagabundos têm uma compressão mega foda, que entra a freqüência exata. Aí baixo uns filtros na internet, pego uma acapella da Gwen steffani , Britney, e coloco a minha e a dela lado a lado, até deixar as duas com uma qualidade igual. As pessoas perguntam: "Como você consegue?". Eu gravo no meu quarto com microfone de cincão, é só fuçar mesmo, buscar filtros na internet, testar um monte, aprender a usar, ficar o dia inteiro testando.
E quando foi que você começou a brincar com esses programas até chegar no Bo$$ in Drama?
Comecei em 2004 fazendo umas batidas meio trip hop, tentava misturar hip hop, e algumas coisas que eu ouvia bastante, mas não era muito dançante. Aí comecei a testar algumas coisas dançantes, testar uns timbres legais, foi quando chamei uma amiga pra cantar junto - e montamos o Gomma Fou. Ae fomos chamados pra tocar no Project Band do Motomix de 2006. Depois terminei o projeto e comecei a fazer algumas coisas sozinho, pois já tinha formatado o que eu queria, produzido vários tipos de música diferentes, e estava com uma visão mais ampla, toda uma bagagem de influências, coisas densas dos anos 90, muito hip hop, rock. Não foi uma coisa assim "vou produzir algo igual ao que produzi na semana passada", é uma coisa que você pega tudo o que ouviu e faz um x-salada, coloca aquilo e cria teu som, mistura timbre do Daft Punk, vocal rap, anos 80, umas batidas mais frescas. O legal é você fazer uma coisa influenciada, mas que não pareça da época, porque se parecer já não é legal. Se você faz uma coisa parecida com New Order, é melhor ouvir o original do que o genérico.
E você teve um breve projeto com o Pedro do Bonde do Rolê também?
Sim, na verdade ainda tenho a demo aqui no computador. A gente queria criar um novo estilo, a New Dance Music, fazer uma nova dance de 1993, um pós-new rave quando estava começando o new rave. Foi engraçado, a gente não terminou nada. Marcamos um show, só que o Pedro tinha esquecido que ia viajar pra Europa com o Bonde dois dias depois. Agora que ele voltou, quem sabe a gente faz alguma coisa junto. Somos bastante parecidos, temos umas idéias bem legais.
E foi dessa amizade que surgiu o convite para remixar "Vitaminada" do Bonde?
Na verdade, eu remixei porque ouvi uma acapella que o Gorky mandou pra mim, ninguém conhecia a música. Eu queria fazer algo que fosse uma cornetinha, mas que não fosse funk. Quando o Gorky mandou a música, ele nem imaginava que eu fosse fazer algo com aquilo, foi quando lembrei daquela música dos Mamonas Assasinas, "Ser corno ou não ser", e tirei o sample de lá, mudei o timbre e usei. Ninguém sabia disso até agora [risos]. Eu recortei a corneta, desmontei, e isso que é o legal da música eletrônica, pegar qualquer barulho, qualquer música, recortar pedacinhos e fazer uma coisa só sua, e não ter que pagar direitos autorais pra ninguém. O pessoal do hip hop faz isso, da eletrônica, pois muita gente bebe das mesmas referências. Esse é o lance, ser cara-de-pau, mas na medida certa.
E suas principais referências são C&C Music Factory, La Bouche? Aquelas tosqueiras dances dos anos 90?
Sim, hoje em dia é legal você falar que curte os anos 90. Mas eu lembro que tinha uma época que quando eu falava isso, as pessoas me achavam tosco, tipo em 2000, 2001. E essa quebra de preconceito é boa, pois na época não tinha nenhum artista ou banda influenciado por essas coisas, hoje em dia você já ouve isso. Isso é influência, e com certeza daqui a uns anos, as coisas que você fala que não gosta, tipo Alexia, não tão legais, vão ser legais. Alguém vai dizer que foi influenciado, e com o tempo as pessoas vão se acostumando e amolecendo.
E o disco de estréia? Quando sai?
No momento estou trabalhando em vários remixes, tipo um pro DJ Zegon, que deve sair em abril. Já recebi vários convites pra lançar, tipo um de um selo obscuro da Alemanha, mas acho melhor esperar, porque tenho várias faixas novas em mãos, e vai aparecer uma oportunidade legal, um selo bacana que vai comprar a idéia, e corresponder à minha expectativa. Eu não quero fazer alguma coisa agora, precipitada, vou esperar produzir minha demo. Preciso de umas 30 faixas, pra selecionar 10 bacanas, e dessas um single foda. Quero ter algo de qualidade.
E você também vem de Curitiba, a capital da música despretensiosa que faz sucesso. Espera embarcar nesse sucesso também?
Ultimamente têm surgido essas oportunidades, propostas pra tocar em vários lugares, mas não quero botar expectativa, fazer sucesso, largar minha faculdade, minha vida. Quando eu puder viver só de música, vou me dedicar somente a isso, mas não vou apostar todas as minhas fichas agora, enquanto não estiver com nada concreto, um planejamento pra fazer as coisas, e levar isso como profissão, porque no momento eu não consigo me sustentar com isso. Se uma hora o meu som for considerado uma bosta, vou continuar fazendo, a diferença é que as pessoas não vão estar gostando, mas a partir do momento que eu não estiver me divertindo, virar um saco, não vou mais fazer, abro uma loja, sei lá...
E você gosta de tocar em festivais?
Sim, acho muito bacana, toquei em dois já, no Motomix e no Eletrônica. Eu conheci uma galera, todos os artistas, menos os que têm síndrome de estrelismo. Nesse último, encontrei o James Murphy umas quatro vezes, ele estava do meu lado no aeroporto e fui pedir açúcar, aí ele disse: "Como você sabe que eu falo inglês?", e eu "Porra, você é o James Murphy!". É legal, você troca experiências, pergunta como faz, o que usa, de que jeito. Sou mega curioso, gosto de conhecer o set up, nas passagens de som fico olhando os equipamentos, como eles fazem, uma coisa meio nerd, mas eu curto pra caramba.
E tem algum artista que você gostaria muito de fazer um remix?
Eu queria fazer um remix encomendado pelo Michael Jackson, ia achar incrível. Outros bem fodas seriam Daft Punk, C&C Music Factory, Erasure, Pet Shop Boys. Acharia bem foda!