Dor/Medo

por Luiz Alberto Mendes em

Dor/Medo

 

O medo, levado a seus extremos, adquire a mesma dimensão absurda da dor. Caso deixemos tomar conta, criamos um temor que abrange tudo o que nos cerca e alhures. No meu tempo de jovem esse tipo de medo que hoje que faz parte da vida das pessoas, possuía um outro nome: covardia. Vive-se, atualmente, um pavor de tudo e de qualquer coisa que pareça ameaçar nossa posição, nossos planos ou nossos sonhos. Medo da violência; da falta de dinheiro, do desemprego (um medo alastrado por todos que estão empregados), de falar demais, de sair de casa (a mídia vive a nos assustar), de amar, de ficar sozinhos (solidão negra...), da morte e até da vida. Imagino que isso deva causar uma angústia tremendamente dolorida. Penso até que seja uma dor insuportável. Eis ai a raiz das drogas; do consumismo; da alienação nos jogos de toda espécie (desde o bingo aos jogos eletrônicos, passando pelas loterias); do vandalismo; do fanatismo religioso ou político e da estupidez humana. São meios de fuga desse medo/dor que desespera as populações humanas.

Sai da prisão destituído desses medos. Hoje, depois de quase 10 anos aqui fora, percebo receios querendo se tornar medos efetivos. Luto com todas minhas forças contra tais pressões. Paguei muito, mas muito caro mesmo para desconstruir meus medos antigos. Meu pai me criou no pavor e na porrada. Fui obrigado a fugir de casa aos 11 anos de idade para não viver mais sob o império do medo que meu pai nos mantinha em casa. Bati de frente sempre que desafiado, quebrei a cara inúmeras vezes e me dei muito mal. Mas o único medo admissível era o da dor física que causava a morte; nem a morte em si parecia digna de meus medos. Morrer de doença, de um acidente esmagado, ou assassinado brutalmente imagino que deva doer demais. Mas se viver, sei que é irreversível morrer. Ao que não se tem remédio, remediado esta, dizia um ditado antigo. Então nem me preocupo com isso; vai acontecer e pronto. Estarei lá, assustado, mas já procurando, curioso, o que pode haver de bom nisso de se morrer.

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Luiz Mendes

10/01/2014.

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