Digam que eu fico
Bronca da mentalidade da elite brasileira que, ao se julgar superior, cogita abandonar o barco
Nada contra viajar e dar a volta ao mundo. Minha bronca tem a ver com uma mentalidade tacanha da elite brasileira que, ao se julgar superior, cogita abandonar o barco, mesmo sabendo que foi essa embarcação que a colocou em lugar privilegiado
Ficar ou ir embora do Brasil? Ficar, sem dúvida. Ficar e arregaçar as mangas para melhorar. Acho muito cômodo simplesmente ir embora. E, além de cômodo, é uma opção no mínimo elitista, certo? Porque poucos podem se dar a esse luxo de simplesmente sair: a grande maioria não tem condições de fazer isso. Apenas os mais bem-sucedidos e “educados” (com aspas reluzentes) e, do ponto de vista formal da palavra, desencantados com o país podem alugar seus apartamentos em Higienópolis ou no Leblon por preços exorbitantes – contribuindo, é claro, para a bolha do mercado imobiliário (mas isso não será mais problemas deles) – e viver no Marais, em Paris; em Williamsburg, em Nova York; ou em Shoreditch, em Londres. Alguns mais aventureiros vão gastar seus euros em Kreuzberg, em Berlim. Outros, menos ousados, escolhem a linda Lisboa e nem precisam mudar de língua.
Nada contra viajar todo mês, dar a volta ao mundo, fazer cursos bacanas no exterior ou mesmo morar e trabalhar por lá. Minha bronca tem a ver com uma mentalidade tacanha da elite brasileira que, ao se julgar superior à nossa realidade, cogita a possibilidade de abandonar o barco, mesmo sabendo que foi essa embarcação que a colocou em um lugar tão privilegiado. Aí, quando o bicho pega por algum motivo, a porta de saída sempre é colocada como alternativa.
Já escrevi neste espaço sobre o incômodo que a liturgia da reclamação me causa. E o meio político é sempre o mais óbvio alvo. Não que não mereça, pois estamos vivendo dias inacreditáveis, mas se colocar à parte do processo e não cogitar a possibilidade de enfiar a mão na massa para ocupar os espaços e transformar a política e o país, sob a alegação que não tem nada a ver com o que acontece, é lamentável.
Luta pela educação
Cada dia cresce a percepção de que precisamos parar com a mania de apenas enumerar nossos problemas (que são muitos) e começar a pensar seriamente em soluções. Pra começar, que tal fazer pra valer o que quase todo mundo concorda: lutar por uma revolução educacional? Quem sabe assim possamos avançar. O Brasil é um país maravilhoso, com um povo sensacional e que não cansa de dar mostras de vitalidade e possibilidades. Digam à Trip que fico.
*Alê Youssef, 38, é apresentador do programa Navegador, da Globonews, comentarista do programa Esquenta!, da TV Globo, advogado e produtor. Seu e-mail é alexandreyoussef@gmail.com