Devoradores de Notícias Ruins

por Luiz Alberto Mendes em

 

Meninos...

 

A cada um daqueles meninos que teve seu sangue derramado nas calçadas, tivemos ali exposta a pior de nossas doenças sociais. Só que em vez de ler aquele trágico acontecimento e buscar a cura, sentimos uma espécie de alívio: Ufa! Desse estamos salvos; menos um predador! E nos acomodamos, qual aquele fosse o ultimo deles. Preferimos não enxergar que, de onde saiu aquele, se as condições continuarem as mesmas, sairão muitos outros. A progressão deixou de ser aritmética há bastante tempo. Estamos perdendo terreno, o ritmo já é geométrico há muito.

A bomba foi mais uma vez desarmada, nos auto-iludimos.

Há quem aplauda os protagonistas daquela “pequena” tragédia. Sempre parece recorrência falar do Massacre da Candelária. Mas desenhar mentalmente dezenas de crianças dormindo no calçamento, abandonados ao relento, juntas para gerar calor e policiais vestidos à paisana metralhando-as, é medonho. Oito foram mortos e vários feridos. Loucura total, a “Escola do Mundo ao Avesso” de Eduardo Galeano.

Mais uma vez perde a justiça na acelerada concorrência com a segurança. Aqueles meninos são “micróbio social” dos quais nos libertamos. Virus, infecção social, animais, bestas feras, são as maneiras que nos referimos a eles. Houve até um tempo em que os policiais eram aumentados em seus soldos com bônus em seus “atos de bravura” ao exterminar jovens delinqüentes.

Parece até que as doutrinas de segurança nacional vão sendo substituídas pela histeria coletiva alimentada pela mídia. Os Ratinhos, Datenas, Fachiollis, Gotinos e outros com suas barrigas enormes e seus gordos salários, vão hiper dimensionando as desgraças ocorridas no país. Criam verdadeiros devoradores de notícias ruins.

Enquanto isso, os roubos, furtos e demais delinqüências cometidas por aqueles cujo sangue foi derramado nas calçadas são brincadeira de criança ou piada diante das fraudes de mercadores, banqueiros, políticos e gestores públicos...

A cascavel só ataca quem esta de pés descalços, já dizia alguém que não me lembro quem.

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Luiz Mendes

17/07/2011.

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