Culto da Morte

por Luiz Alberto Mendes em

 

Paixão pelo mórbido

 

Talvez por haver passado quase toda vida preso, algumas coisas que são tão significativas para as pessoas, para mim não o são nem um pouco. Às vezes isso faz com que me sinta a parte por não acompanhar o gosto e a orientação da maioria. Outras vezes fico contente por não ouvir o mesmo tambor que quase todos seguem.

Por exemplo, o culto à morte praticado aqui fora me parece absolutamente mórbido. Em qualquer locadora há uma galeria toda de filmes de terror. Tem até de torturas mortais (vide “Jogos Mortais I, I, III, IV, V”...). Cortar em tiras com machado, separar em partes com a motosserra, degolar e decepar a cabeça com manchete não é mais conversa de gangsteres. Freddy Krueger e Jason imperaram nas telas com suas matanças brutais. Alcapone é fichinha para eles. Os vídeos games são outra fonte de crime, terror e desespero total à disposição de qualquer criancinha. Frankstein, Drácula, Lobisomem, Bella Rugosa, Família Adams ou Zé do Caixão já não impressionam ninguém.

Em dia de finados os cemitérios ficam cheios de gente se atropelando. Depois restam abandonados, imundos, cheios de flores mortas, pisadas, caixinhas vermelhas do McDonalds amassadas e aquele cheiro nauseabundo de velas queimadas...

Milhares de pessoas têm ido visitar o campo de extermínio de judeus construído pelos alemães nazistas em Auschwitz. O que querem ver além do que já sabemos? O Massacre dos 111 da Casa de Detenção virou livro e depois filme (Carandirú) de sucesso nacional. O que se queria ver lá além de presos sendo mortos aos montes como ratos? A verdade? Não creio.

As pirâmides do Egito há milênios vêm sendo visitadas por pessoas do mundo todo. Não passam de túmulos, mesmo que revestidos em ouro. Custaram milhares de vidas de escravos feitos em guerras para construí-las.

Tumbas e mausoléus ricamente ornamentados a tomar espaço útil em necrotérios, igrejas e até praças. Monumentos, estatuárias e arcos em destaque nas grandes capitais do mundo que celebram vitórias militares em guerras que custaram milhares (e até milhões) de vidas humanas.

Porque essa paixão tão exagerada pela morte? Não consigo compreender e não consigo acompanhar. Mas não lamento nem um pouquinho. É ótimo não haver sido tocado por esse tipo de cultura tão mórbida.

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Luiz Mendes

31/05/2012.

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