Culpas

por Luiz Alberto Mendes em

 

 

Sensibilidade

 

Não sou poeta porque nunca pude dar asas à sensibilidade mais profunda. Ela me levava ao tormento, ao desespero diante da dor humana. A dor dos outros provoca em mim primeiro a compaixão dolorida, depois à revolta contra a injustiça e por fim à uma fúria incontrolável contra aqueles que a causam. A revolta me sacrifica, me deixa sem ar, ardendo em febre de semi-loucura, desesperado por vingança, por destruir todo aquele que causa sofrimento. Esquecido de  que já causei muita dor, que já impus sofrimento às pessoas, que fui igual a todos que sacrificam e fazem sofrer. Pessoas sentiram o que sinto de revolta contra os que fazem os outros sofrerem. Lembrar disso dói fundo, causa desprezo de mim mesmo e o arrependimento é algo que maltrata, humilha até os ossos. Olhar no espelho me dá ganas de acabar comigo. Só tem uma coisa boa: há mais de 30 anos venho me esforçando muito para ser digno de minha auto-crítica e ninguém tem mais motivos de sentir revolta contar mim.

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Luiz Mendes

25/08/2015.

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