Gostei de haver assistido o filme "007 Operação Skyfall". Gostei de Daniel Craig como agente "007". Claro, não tem a arte, força interpretativa e nem a energia bruta de Sean Connely; sequer a elegância e o charme inglês de Roger Moore, mas dá para o gasto. O enredo é bom e o ritmo um pouco rápido demais para o meu gosto. Aprendi algumas coisas interessantes e consegui me distrair bem.
Em certa parte do filme, Javier Bardem (esse outro grande ator...)rouba a cena interpretando o misterioso Silva ao conta uma história extremamente interessante que me deu muito o que pensar.
Havia uma ilha infestada por ratos. Ratos de todos os tamanhos e espécies. Esses animais estavam roubando o trabalho e a única fonte de riqueza dos nativos da ilha: os cocos. Tentou-se de tudo para exterminar os malditos ratos. Matavam a todos em armadilhas, mas passado algum tempo, a praga voltava. Os malfadados mamíferos provinham de outras ilhas e se multiplicavam rápido demais alimentando-se com os cocos. Os nativos já estavam começando a passar fome quando surgiu um especialista em resolver problemas iguais àquele.
O caçador de ratos colocou um enorme tambor com entrada, mas sem saída, próximo à praia. Dentro vários pedaços de coco já descascados. Os ratos foram entrando, entrando, entrando, até que não se viu mais desses bichos na ilha e o tambor estava lotado. Fecharam a entrada e todos ficaram imaginando o que o especialista faria com o tambor. Qual o próximo passo? Queimaria, afogaria, ou o que? Já haviam feito isso e não adiantara nada.
A surpresa foi geral quando ele afirmou que não faria nada. Simplesmente manteria o tambor fechado. Os ratos foram se entre devorando. Ao final sobrou apenas um casal. Todos pensaram: agora é só matar esses dois e fim. Foi então que o homem mostrou seu truque de especialista: aqueles casal de ratos havia sido condicionado a comer ratos. Eles atacariam os ratos que aparecessem na ilha em busca de cocos.
Em meu tempo de Juizado de Menores (antiga Fundação Casa), internado e preso como os demais menores de idade infratores, vivi algo parecido. Os Policiais Militares (e não funcionários) que tomavam conta de nós, nos fizeram assimilar a maneira estúpida e violenta como nos tratavam. Nós reproduzíamos entre nós as sevícias com que os PMs nos conduziam. Eles nos davam "bolos" nas mãos e nos pés. Batiam com uma borracha grossa de pneu de caminhão ou com fio de telefone. Aquilo queimava na pele sem deixar muitas marcas. Nós, em nossas "brincadeiras", tirávamos tacos de madeira do chão para dar "bolos" naqueles de nós que perdiam nas disputas, que fossem mais fracos ou ingênuos. Nos maltratávamos, extorquíamos (a sobremesa, a mistura, a roupa e qualquer coisa que tivéssemos), feríamos, estuprávamos, furávamos, cortávamos e abusávamos exatamente como nosso algozes nos faziam. Chegamos até a nos matar nessas instituições para menores delinquentes.
Mas havia uma grande diferença entre nós e os ratos. Nós tínhamos inteligência, razão. Quando percebemos que os nossos opressores eram pouco mais de meia dúzia e nós cerca de 250, iniciamos as rebeliões. Tomamos as chaves dos cadeados e dos portões, quebrávamos os soldados que nos torturavam e fugimos em massa. Dai para a frente eles não conseguiram mais nos segurar para oprimir.
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