Cozinha confidencial
Eu estava tão espantada com a situação que fiquei tirando fotos dos cogumelos e esqueci de fotografar a mulher bonita de calcinha
Eu sou uma mulher que cozinha bastante. Gosto de ir a restaurantes em Paris e tal, mas nunca vou negar um prato de arroz e feijão no boteco da esquina. A maioria do tempo, no entanto, prefiro comer a minha comida mesmo.
Se eu gosto de você, vou te chamar pra almoçar na minha casa. Se eu quiser que você tire a roupa para mim, vou te chamar pra almoçar na minha casa. Se eu preciso que você me empreste a sua furadeira, vou te chamar pra almoçar na minha casa. Gosto de ir à feira, tenho uma coleção de facas maravilhosas e, no meu tempo livre, geralmente fico lendo livros de cozinha. Tudo isso acaba significando que, fora a minha mãe, ninguém cozinha para mim. Nunca.
Fui a Paris a trabalho recentemente e fiquei uns dias a mais na casa de uma amiga nova, a Céline. Aprendi como é a coisa mais maravilhosa do universo ter uma mulher de calcinha (e ressaca) fritando uma panela de cogumelos ali, ao alcance das mãos. Tanta mulher de calcinha já passou pela minha casa e nenhuma delas nunca colocou um sobretudo e um chinelo para comprar uma garrafa de vinho gelado na loja da esquina. Nenhuma delas nunca voltou para me dar o vinho e o abridor enquanto começava a fazer um ovo mexido. A Céline é uma chef parisiense, mora praticamente aos pés da torre Eiffel, e tem a geladeira sempre cheia de cogumelos e figos e ervas de todos os tipos – e os ovos mexidos dela vêm sempre com trufas raladas por cima.
Se você vai ter uma mulher cozinhando pelada para você pela primeira vez, é maravilhoso que seja uma mulher dessas num lugar desses. Eu estava tão espantada com a situação que só fiquei tirando fotos dos cogumelos e esqueci de fotografar a mulher bonita de calcinha. Depois de me fazer um lindo prato, ela me deixou com um beijo na testa para ir jogar badminton com a paquera dela. Talvez seja melhor assim.
Mas agora fiquei mimada, não quero mais cozinhar, resolvi que estou velha e quero ser cuidada. Pode chegar na minha casa com uma sacola da feira, do supermercado ou até com um PF para viagem. Quero que alguém ande de calcinha para mim e me dê comida enquanto abro um vinho. Até lavo a louça. Vem.
Autumn Sonnichsen, 31, é fotógrafa. Seu site é www.autumnsonnichsen.com