Corte e costura

A família Amores mostra que "toy art" não se limita apenas a grandes galerias e pessoas mais abastadas

por Cirilo Dias em

POR CIRILO DIAS

“Em um meio onde muita gente é analfabeta, era como Quixote contra os moinhos de vento”. Estas palavras resumem o sentimento de Marcita Amores ao conhecer o projeto Êxodos, biblioteca situada na região do Capão Redondo (São Paulo/SP) que promove entretenimento e inclusão social. Convidada pela irmã e grafiteira Verônica, ao chegar ao local, Marcita teve uma idéia que ia muito além de apenas espalhar por aí que aquela biblioteca estava mudando a cultura local.

Enquanto a publicidade bombardeia a molecada para ter o último modelo de Nintendo Wii e afins, em uma região onde falta o básico, que é aprender a ler e escrever, a educação é arma poderosa para incendiar a criatividade. As irmãs Amores, acostumadas a aflorar o amor em suas confecções (são donas da marca de lingerie wwww.adoramoresalmadeflores.blogspot.com), resolveram ministrar uma oficina de toys com os retalhos e aviamentos que sobram de suas produções e, com isso, ensinar as crianças a “costurar brincando”. “Somos arte-educadoras e sempre tentamos orientá-las a respeito da manipulação da propaganda, da indústria. Apesar de mexermos com moda, temos aversão a essa coisa do consumo, do efêmero e da futilidade desse mundinho”, conta Marcita. “Acho que o que mais encantou as crianças foi o colorido dos retalhos e a liberdade de criação. Como a costura exige atenção, uma hora elas se cansam e começam a brincar de se enrolar nos retalhos.”. O resultado das oficinas foram obras que em nada perdem para os toy arts de artistas consagrados. A experiência vem mostrando para as irmãs que a frase “mudar o mundo”, tão gasta pela demagogia de hoje, é eficiente nas pequenas coisas. “É bem tática de guerrilha mesmo”, complementa Marcita.



Desde o princípio, as pessoas que idealizaram o projeto Êxodos tinham vontade de servir lanches nos intervalos das oficinas, porém, a falta de espaço impedia a empreitada. Agora que surgiu a oportunidade de ampliar as instalações da biblioteca, a família Amores – que é como as irmãs são conhecidas – resolveu organizar uma feijoada no dia 12 de julho, para arrecadar fundos para a construção da tão sonhada cozinha. Além dos “toys” produzidos pelas crianças estarem à venda no dia da feijoada, as irmãs pretendem levá-los a lugares como a Plastyk (galeria especializada em Toy Art) e “talvez fazer alguma exposição em algum lugar 'nobre' para pessoas mais abastadas conhecerem o projeto e se interessarem em ajudar. A Êxodos é incrível e a meta é crescer”, conclui Marcita, com a certeza de que o universo da toy art não se limita apenas às nobres galerias.

Mais infos sobre a feijoada da Êxodos, sábado, dia 12: (11) 4781 4294
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