Conflito: Pais x Filhos Adolescentes

por Luiz Alberto Mendes em

 

Filhos Adolescentes

                                                  “Filhos, melhor não tê-los

                                                                   Mas se os temos...”

                                                                                 Vinícius de Morais

 

Meu filho, nascido de sua própria necessidade de existir, aquele pacotinho azul de carinha enrugada e rosada, aquele doce menininho que comigo brincava e me mim confiava, vai se tornando um homem. E esta cada vez mais diferente de mim, com seu ar entojado de adolescente insatisfeito. Já não me procura, não me dá importância e nem quer saber de mim. A vida dele esta preenchida por jogos eletrônicos, relacionamentos via sites e suas pesquisas na internet.

Ele me obriga e me convoca ao mesmo tempo. Obriga-me a amá-lo mesmo não concordando. Convoca-me a amá-lo não mais pelas suas semelhanças comigo e sim pelas suas diferenças a mim. Começou para ele uma nova vida, uma vida que não fui capaz ou não ousei empreender. Ele é uma ruptura fecundante, uma brecha na couraça de minhas certezas pessoais. Isso é parte de mim também. Continuo a ser responsável por ele, mesmo sendo um estranho a ele. É como se ele fosse uma parte de mim que conquista uma autonomia radical e eu fico aqui, desconcertado, me obrigando a entender por amá-lo.

Ele me abre para novas riquezas, para além do meu egoísmo familiar e pessoal é, sem dúvidas, uma forma de libertação. É muito mais difícil aceitar as diferenças que encontramos em filhos que em estranhos. Parece que me ressinto de sua autonomia, que sei, é inteiramente legítima. No fundo, ele é um outro homem cuja existência me questiona e pede respostas precisas. É uma experiência desnorteante e a cada minuto misteriosa. A sua multiplicidade de possíveis jamais serão meus e careço aceitar sem reservas, acolher e crescer junto.

Percebo que para amá-lo respeitando-o em sua mais completa liberdade, preciso ultrapassar vales e picos de resistências interiores. Creio que aprender a vencer essas resistências e chegar a um sentimento de bem querer além do sangue, do dever, do interesse ou até mesmo do respeito, é o caminho que me resta. Provavelmente seja este também o trabalho que careço.

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Luiz Mendes

12/07/2011.

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