Como se desfazer de uma arma

por Luiz Alberto Mendes em

 

A Pistola

 

Acabo de chegar.

Agora pouco um amigo professor, o Nelsão (ele é enorme) veio me procurar com uma história até banal nos dias de hoje. Pense uma pessoa linguaruda; essa é a esposa dele. E, por conta disso, tem inimigos. Constantemente ele tem que tirá-la dos “rolos” que a infeliz se mete.

Ela morria de inveja de sua maior inimiga porque esta trabalhava como assessora de um homem bem sucedido nos negócios. Ganhava um bom salário, tinha carro do ano e morava bem.  Elas eram primas e brigavam desde meninas. Sem querer soube que a esposa desse homem frequentava o mesmo salão de beleza que ela. Do nada, fez insinuação sobre a relação entre patrão e empregada para a cabeleireira. Esta, como não poderia deixar de ser, repassou a informação à esposa daquele patrão.

Resultado: a cabeça da suposta amante rolou. A prima da esposa do Nelsão foi demitida sumariamente. Quando soube da origem da fofoca, nem quis tirar satisfações. Sabia que rolariam pelo chão, provavelmente. Mas comentou com o irmão. Este, cheio de rancor, em um ímpeto ameaçou passar com o carro em cima da esposa do professor, caso a encontrasse.

O sujeito era conhecido como violento e impulsivo. Meu amigo professor não sabia o que fazer. “Chapou”. Assustado, acreditou na ameaça e comprou uma arma. Sabia que a “filha da puta” estava errada; vivia lhe trazendo dor de cabeça com suas futrica e armações. Mas era sua esposa e ninguém tinha o direito de ameaçá-la. Apesar de, ele a amava. Achava até um pouco de graça naquilo; “essas meninas...”

E passou a escoltar a esposa. Até que percebeu que o sujeito não faria nada. Ameaçara impulsivamente e até esquecera. A prima desempregada sua esposa teve que voltar para sua terra natal e os destinos, felizmente, se desencontraram.

O professor concluiu a história e, sem que eu esperasse, tirou uma sinistra pistola de sua bolsa e colocou em cima de minha escrivaninha. Aquela era a arma que comprara. Pela manhã sua esposa estava em cima de uma cadeira para limpar um armário no porão e pediu para a filha espanar alguns livros em baixo. Atrás dos livros estava escondida a pistola. A menina de 9 anos achou, apanhou e mostrou para a mãe apontando. A mulher tomou um susto tão grande que perdeu o equilíbrio e caiu, se esborrachando no chão. Ainda se contorcendo das dores da queda, “puta” da vida, apanhou a arma da mão da garota e foi tirar satisfações com o marido.

E ali estava aquela enorme coisa preta. O que faria com aquilo? Não queria. Não se considerava com equilíbrio suficiente para portar uma arma. Parece que quem tem esse equilíbrio não precisa de uma arma. Esta infinitamente mais bem armado. Caso doasse para alguém, a arma poderia ser usada e ele seria o culpado. Não podia vender pelos mesmos motivos. Sabe-se lá nas mãos de quem poderia ir parar. Não levaria na delegacia porque a polícia iria querer saber onde ele obteve. Isso ele não podia fazer. Colocaria a sua vida em risco caso revelasse.

Pensou mil modos de se livrar do artefato. Enterrar, meter a marreta, quebrar e esparramar as peças no lixo e me perguntava agora: o que seria melhor fazer? Olhei aquela coisa sinistra e perguntei se ele estava de carro. Estava. Fomos ao rio mais próximo de casa. Tranquilamente tirei o pente da arma e atirei no meio da correnteza borbulhante, separadamente. Era muito fundo. Se um dia drenarem, o que não acredito dada a profundidade do rio, a pistola estará inteiramente corroída pela ferrugem.

Como disse no começo, acabo de chegar. Sem comentários: Missão cumprida.

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Luiz Mendes

10/02/2012.

 

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