Como funciona a vergonha alheia

Saiba o que um grupo de neurônios faz com você diante de uma cena ridiculamente vergonhosa

por Fernanda Paixão em

Charles Darwin era fascinado pelo rubor causado pela vergonha, que chamou de "a mais humana e peculiar das expressões". A alteração de circulação capilar que encantou o naturalista inglês pode se dar por muitas razões, inclusive quando somos apenas espectadores de uma cena embaraçosa – a conhecida "vergonha alheia".

Na década de 90, um grupo de cientistas italianos descobriu uma categoria de neurônios que estaria por trás de tal comportamento: os neurônios-espelho. Sobre eles, o doutor em ciências e professor do Programa em Neurociências da Universidade Federal Fluminense, Luiz Gawryszewski, explica: "A vergonha alheia é um reflexo do comportamento do outro. Todos os efeitos da observação provocam uma ativação subliminar".

Essa projeção é uma prática empática que age através dos neurônios espelho, que são ativados quando, em estado de atenção, observamos uma ação, intenção ou emoção; qualquer coisa que faça ou possa vir a fazer parte do nosso repertório de ações. É assim que memorizamos tarefas básicas – o porquê de não precisarmos aprender todas as manhãs a como escovar os dentes, por exemplo.

Ficamos constrangidos diante de um comportamento que podemos considerar grotesco socialmente, principalmente se praticado por uma pessoa que de alguma forma esteja ligada à nossa identidade social. Ao mesmo tempo, experimentamos a frustração de não podermos controlar as ações do "infrator" e, graças à autoprojeção provocada pelo neurônio-espelho, a ação do outro incomoda como um reflexo negativo de nossa própria imagem.

Por isso você quis sair correndo da sala há um ano, quando aconteceu o episódio conhecido como "7 a 1". Corremos.

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