Como foi em 2007
Pessoas muito diferentes levaram ao Ibirapuera a insistência em mudar o Brasil para melhor
Danilo Miranda, Ivaldo Bertazzo, Fernando Meirelles, João Joaquim de Melo, Jorge Gerdau, Luciana Quintão, Niède Guidon, padre Jaime, Roberto Klabin, Romário, Sidarta Ribeiro, Tia Dag. Verdade, nem a ordem alfabética parece ser capaz de dar alguma lógica a essa lista de figuras tão diferentes. Em comum, a insistência de cada um em fazer o Brasil mudar para melhor. E, desde a noite do último dia 22 de novembro, o fato de terem recebido o Prêmio Trip Transformadores, no auditório do Ibirapuera, em São Paulo.
A origem do prêmio é, ao mesmo tempo, muito simples e pretensiosa. Em seus 21 anos (pois é), a Trip cultivou e cultiva a ambição de observar o mundo com lentes próprias. A revista procura olhar para aquilo que é ignorado pela mídia vazia e repetidora de bobagens. Isso atraiu, em 162 edições, uma legião de pessoas que se identificam com essa maneira de enxergar o mundo - como você, como os indicados ao prêmio (você vai ler a lista completa nas páginas desta matéria). O prêmio é uma homenagem a essas pessoas.
O cantor Paulo Miklos e a atriz Taís Araújo fizeram as honras da casa, apresentando a cerimônia e os 36 finalistas das 12 categorias do prêmio. Não por acaso, as mesmas que serviram como temas para as edições da Trip nos últimos dois anos - de trabalho a sono, passando por acolhimento, alimentação, biosfera, conexão, corpo, desprendimento, diversidade, educação, liberdade e teto. Mas, antes que o primeiro troféu desenhado pelo arquiteto e artista Carlos Motta fosse entregue, a cantora Virgínia Rodrigues puxou um afro-samba de Baden e Vinicius. Se era de diversidade que a noite tratava, nada como começar com um samba sincrético. Dali para frente, foi pouco mais de uma hora e meia de histórias, idéias, aplausos e agradecimentos. Uns, direto do estômago, como o da economista carioca Luciana Quintão, criadora da ONG Banco de Alimentos: “milhões de pessoas poderiam ser alimentadas com a comida que é desperdiçada neste país”. Outros, no coração.
Como o de Romário, lido por um emocionado Luiz Moraes, que representou o homem: “Mais um momento de felicidade que minha princesinha me proporcionou”, escreveu, lembrando de sua filha caçula, Ivy, portadora de síndrome de Down.
E teve até agradecimento de quem foi lá para homenagear. Com a palavra, Paulo Lima, editor da Trip: “Vendo o porte e a obra de cada um dos nossos premiados, tive a sensação de estar sendo o homenageado [pela presença de vocês]”, disse. “Mesmo correndo o risco de resvalar na demagogia e até no lugar-comum, quero frisar que todos os 36 indicados são pessoas com obras e biografias que representam aquilo pelo que vale a pena lutar. Crença na vida, crença no mundo, crença no outro.” De pé e com o auditório iluminado, foi a vez de eles receberem os aplausos.
Tudo isso pontuado pelos pocket-shows de Paulo Nenflidio, com suas parafernálias eletrônicas, e do Grupo Experimental de Música tirando som de sucata. O GEM ainda voltaria para encerrar a noite, com uma canja de Virgínia Rodrigues já com o fundo do palco aberto para as árvores do parque do Ibirapuera (Oscar Niemeyer mereceria um Prêmio Trip Transformadores só pelo projeto desse auditório). Se bem que encerrar a noite é modo de dizer. A cerimônia virou festa no foyer. E ali, quem via toda aquela turma reunida no mesmo espaço, trocando idéia - idéia não se compra não, nem se vende, idéia se troca -, viu por que a Trip acredita em transformadores. E na transformação.