Comentários & textos

Estou pensando num guia que dê noções e informações ao preso de como tratar seus filhos

por Luiz Alberto Mendes em

Conversa ao pé do computador

 

No presente momento estou envolvido em três novos objetivos:

1)    Projeto de guia que, de alguma forma, dê algumas noções e informações ao preso de como tratar seus filhos. Educar, punir, brincar, manter viva a relação pai e filho enquanto o pai estiver preso. Também para quando sair, como inserir-se na vida deles sem invadir, de modo a ser aceito e colaborar na criação deles. Demonstrar que, através especialistas na área, estatísticas e teses, a importância da presença paterna no desenvolvimento dos filhos é muito mais importante do que o capital que este possa gerar. Que o futuro de nossas crianças, para nós pais, é agora. Tem mais, mas a base é esta: orientar o presidiário sobre como relacionar-se com o filho de modo a tentar suprir a falta que faz na vida deste.

2)    Estou me envolvendo com um grupo de amigos que fizeram um trabalho muito bom de amizade e presença junto aos presos na Penitenciária do Estado. Eles haviam se recolhido em outro trabalho quando esta penitenciária acabou. Agora, 5 anos depois, julgam-se prontos para retornar ao trabalho com pessoas aprisionadas e me convidaram para trabalhar em parceria com eles. Pensei bem por conta de meu tempo. Preciso trabalhar, gerar recursos para sustentar os meus. Anda difícil e eu já estou bastante preocupado. O trabalho deles tem tudo a ver comigo. É tudo gente boa querendo fazer algo pelo próximo e que escolhe o preso porque por este ninguém se interessa. Vou fundo com eles.

3)    Comecei a, quando sair de casa para ir para os bairros centrais da cidade de São Paulo, levar minha máquina de fotos. Estou fotografando crianças que dormem nas ruas. Vou fotografar um monte. Depois quero fazer um álbum com isso e convidar amigos que escrevem para produzirem textos que fiquem ao lado das fotos dessas crianças. Quem sabe dê até um livro. Mas demora. Isso é coisa minha e não tenho patrocínio. Então será quando posso não quando quero.

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TEXTOS CURTOS:

 

PROJETO HUMANO

O homem se perdeu das dimensões do próprio homem nas ocasiões históricas em que se perdeu do projeto humano. O homem abortou o homem constantemente, é o que nos conta a história das civilizações. Mas sempre ficaram vestígios, em propostas filosóficas; em cosmovisões; nas utopias; obras de arte; e no próprio homem que progride, lenta e arrastadamente. A história não nega (A visão dialética de Marx e Engels sempre me pareceu a que melhor interpretou o desenvolvimento da história). Mas, mesmo por isso o homem é um projeto a se realizar, um devir, um sonho de ser que não é nunca ao tempo humano. Confio, o homem vive a parir o próprio homem que vem nascendo nos milênios.  É só observar; o projeto humano esta cristalizado na obra do próprio homem.

 

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A  EXPRESSÃO

 

Não sei se consigo doar de mim a uma pessoa, quanto dôo de mim ao meu texto. Isso em termos de emoção, presença, razão e dedicação absoluta. Amo o que faço com paixão desmedida. De verdade me realizo no que escrevo. O texto pode até não ser bom, mas a mim convence. Adoro quando, por exemplo, depois de um texto recém composto, assim bruto, como que escrito a carvão na parede, vou trabalhá-lo. É imensamente prazeroso quando encontro a palavra exata para o que pretendo dizer. É gostoso conseguir secar uma oração até suas ultimas expressões. Algo em mim se ilumina quando consigo, com as palavras que alcançam o pleno entendimento de quem lê, dizer o que estou pensando. Sou admirador do texto de Graciliano Ramos e procuro acatar seus ensinamentos. Por exemplo: “A palavra foi feita para dizer e não para enfeitar.” Depois ir palavra a palavra, conceito a conceito, cada pedaço ínfimo de imagem, pesando, balanceando profundidades e sutilezas que nasceram de mim; é um privilégio, uma delícia! No fundo a busca é sempre de facilitar ao máximo a penetração no entendimento do que penso e sinto. Primeiro para mim, é evidente. Escrevo muito para mim mesmo. Depois para quem, por ventura, vá ler. É encantador, mágico, quando consigo. Melhor ainda quando leio o comentário de quem gostou. De verdade, eu me realizo no que expresso.

 

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SOFRIMENTO

 

Às vezes, diante dos fatos, chego a pensar que o que nos une, enquanto humanidade, é o sofrimento. Vivemos a andar em torno de nós mesmos como pobres diabos. A tormenta nos cerca por dentro e por fora. A nossa existência interior é infinitamente superior à nossa existência no mundo fora de nós.  Lutamos para continuar a sobreviver a nós mesmos, insanos, sem saber bem ao certo para que. Somos meio tudo e meio nada; nunca inteiros e a sensação de incompletude nos acompanha a cada gesto de pensamento.

É somente quando sofremos que nos voltamos aos outros. Eles são o único remédio à doença que nos causamos (a solidão, o abandono?). Ao nos unirmos para superar ou impor barreiras à dor, nos causamos mais dor ainda. Não sabemos conviver com o outro e muito menos com o sofrimento. Ele nos tange, pressiona e leva ao desespero. Desesperados, agimos. Às vezes acertamos, outras erramos. É o eterno jogo de erros e acertos ao qual parecemos estar viciosamente inseridos. Mas, mesmo assim, vamos aprendendo. Aos trancos e barrancos, os séculos e milênios indicam que evoluímos. Não se sabe bem para o que, mas estamos crescendo. Tudo indica que vamos dominar o cosmo, se a Terra conseguir nos resistir até lá. Claro, sempre resolvemos problemas criando outros. O lixo nuclear e a camada de ozônio esburacada são exemplo disso.

 

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Luiz Mendes

01/09/2009.

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