Quero o Brasil do futuro agora
Com Donald Trump os Estados Unidos serão menos América. Menos terra de possibilidades. Vejo isso como uma oportunidade histórica para o Brasil. Única, imperdível mesmo
Brasil, país do futuro. Só que quero esse futuro agora. Apesar de todas as crises, injustiças, decepções, desigualdades, burrices, esnobismos, síndromes de vira-latice e tantos outros males que nos acometem, nunca desisti do Brasil. E nunca desistirei. Desistir do Brasil é desistir da vida, desistir do mundo.
Ainda mais agora que o presidente dos Estados Unidos da América é Donald Trump. Ainda mais que ele chegou ao poder insuflando ódios, divisões e apelando para sentimentos primários, como o medo e o ódio ao outro. É claro que essa é uma explicação parcial. Existe nos Estados Unidos – assim como no Brasil – uma maioria silenciosa que foi escanteada. Maioria essa de pessoas simples, de pouca educação, mas nem por isso sem opiniões e aspirações. Pessoas que não são representadas pela universidade, pela mídia, nem por políticos. Essa maioria tem raiva. E raiva é um sentimento volúvel, que pode apontar ora para um lado, ora para outro. A maioria falou. Sua raiva elegeu Donald Trump. Com isso os Estados Unidos serão menos América. Menos terra de possibilidades, que recebe quem busca liberdade, quem foge, quem quer outra vida e quem quer só vencer na vida. Os EUA viraram EU.
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Vejo isso como uma oportunidade histórica para o Brasil. Oportunidade única, imperdível mesmo. No dia em que Trump ganhou, passei a noite em claro. De manhã, só consegui pensar em uma única frase para expressar aquele momento. Tal como milhões e milhões de outras pessoas, postei minha frase-espanto no Facebook, minha garrafa pessoal atirada no oceano da internet. A frase era: “Que o Brasil tenha a força e a coragem para se tornar o país que irá representar o ideal da América daqui para frente”.
UM SONHO SELVAGEM
Somos o país mais parecido do mundo com os EUA, ainda com “A”. Eles também eram o país do mundo mais parecido conosco. Agora tomaram um caminho diferente. A missão que precisamos assumir é de tomar a bandeira da América para nós. Meu sonho selvagem é que, quando alguém no planeta falar de “América”, esteja falando da gente.
Para isso é preciso pensar grande. Primeiramente, precisamos fazer as pazes entre nós. Quem teve acesso à universidade precisa parar de ignorar os brasileiros e brasileiras que nunca tiveram sequer a chance de chegar perto do ensino superior. É preciso compreender a importância da fé, dos gostos, dos desejos e da luta diária dessa maioria silenciosa, que também é ignorada no nosso país. Maioria que não aparece na imprensa, não é sequer estudada de verdade na universidade, que nenhum partido de fato representa. Essa maioria silenciosa está com raiva aqui também. Essa raiva é volúvel aqui como foi nos EUA. Há muitos embustes autoritários querendo pagar de sereia para essa raiva.
Uma missão essencial que vejo hoje para a esquerda, para o centro e para a direita é proteger e defender o campo democrático. Ele está em risco, ameaçado pela raiva. Qualquer raiva. Raiva de esquerda (“Golpe!”). Raiva de direita (“Foda-se o politicamente correto!”). E raiva de quem é ignorado. De quem tem raiva geral, distribuída a tudo e a todos.
A atitude política mais importante que poderemos ter nos próximos anos é aquela de abandonar a raiva. Não as convicções, a raiva. O que passa por ter fé nos brasileiros que têm fé e nos que não têm. O ódio nada constrói.
Créditos
Imagem principal: Divulgação/Oakland Museum of California
Divulgação/Oakland Museum of California