Chiclete

por Luiz Alberto Mendes em

 

É de noite, é de dia e eu ainda fico aqui tentando poesia. Estava eu versejando e minha tristeza crescia como essas árvores de inverno. Seca. Na semiobscuridade de meus pensamentos, percebi que somos criaturas muito misteriosas. Não só para os outros, mas principalmente para nós. 

Mas desconfio que tudo o que podemos tentar fazer é não termos tanto medo. Não nos assustar a ponto de nos paralisar. Às vezes, apesar de me acharem isso ou aquilo, continuo a ser apenas um rato enjaulado, à boca da grade. E é preciso reagir, mesmo que com o coração tão surrado. Confiar um pouco que em se tentando fazer o melhor possível, as consequências têm mais chances de serem favoráveis.

As Leis das Probabilidades são sérias, afirmam os estudiosos. Faz parte do discurso pós-moderno. Para se viver com qualidade é preciso saber lidar com seus cálculos. Para mim, um malabarismo, um jogo devastador. Tudo deve funcionar de acordo com as probabilidades de dar certo ou dar errado. A vida vira cálculos estatísticos. Vamos então lidar com matemática e não com a existência propriamente dita.

Dizem que somos nós e nossas circunstâncias. Até posso pensar assim, um pouco mais abrangente. Acrescentaria algumas ideias. Creio que somos o que fomos, somado ao que de nós continua a existir. Também somos nossas circunstâncias e contingências presentes, parte delas determinadas pelas consequências de nossas escolhas. Junto com as orientações compatíveis com a formação de nossa personalidade.

E como todas essas reflexões não passam de chiclete (estica, estica, faz bola e tudo, mas continua do mesmo tamanho), continuo achando que somos criaturas tão misteriosas que vivemos a nos auto-surpreender. O caminho é incerto, tudo é muito complicado e só nos cabe desistir ou lutar. Apesar de, a vida se faz de entrega e risco. Mesmo quando tudo ameace desabar sobre nossas cabeças.

                                                **

Luiz Mendes

 

Arquivado em: Trip