Cheese, Brazil
Prestes a abrir em Nova York, a 1500 Gallery é especializada em fotografia brasileira
O Brasil está "on fire", em vários aspectos. Aproxima-se o Carnaval, já se passaram dois meses de verão e o calor derrete as grandes cidades brasileiras (para não falar da chuva que engrossa o caldo no sudeste). Somos copeiros do mundo, olímpicos e agora Nova York se prepara para ser invadida por imagens do país que chama a atenção do mundo.
Dia 11 de fevereiro, longe da Rua 46 (reduto brasileiro em Nova York e sede da falecida Berta Brasil Boutique) será inaugurada a 1500 Gallery, fundada por um carioca e um americano e mais novo símbolo da disseminação do soft power (termo cunhado pelo cientista político americano Joseph Nye e que designa a influência das ideias, valores e cultura de um certo país nas relações internacionais) brasileiro pelo mundo.
Andrew S. Klug, ex-advogado, e Alexandre Bueno de Moraes, dono de uma agência de fotografia no Brasil, acreditam que esse é o momento exato para a empreitada, já que todos os olhos estão e estarão voltados para nós nos próximos anos (ave 2014, 2016). Numa conversa com a Trip, Andrew S. Klug contou como surgiu a ideia de abrir a 1500 Gallery e se houve preocupação em não estereotipar o Brasil através das imagens.
Como surgiu a ideia de abrir uma galeria de fotografia brasileira? Existe interesse nos EUA?
A resposta a isso é lembrar que neste momento o Brasil está emergindo no mundo em muitos níveis: econômico, cultural. O Rio conseguiu os Jogos Olímpicos, todos estão falando sobre o Brasil, todos estão pensando no Brasil, a revista Wallpaper vai dedicar sua edição de junho ao Brasil. Mas a fotografia brasileira é desconhecida. As pessoas conhecem a música brasileira, samba, Bebel Gilberto, Marisa Monte, mas se você perguntar às pessoas sobre a fotografia brasileira, ninguém conhece. Até mesmo aqui em Nova York, no mundo da arte, os que conhecem bastante a fotografia não sabem nada. Nós achamos que a fotografia brasileira pode ajudar a colocar o Brasil em destaque, a emergir num nível diferente. No Brasil há muitos fotógrafos talentosos e nós tivemos a sorte de contratá-los para a nossa galeria. É uma reunião incrível de talento que não está sendo mostrado para o mundo. Nossa missão é ajudar o mundo a descobrir a fotografia brasileira.
Vocês definram algum conceito na hora de montar a galeria?
O conceito que tínhamos era o de [lidar com] fotografia brasileira. Obviamente que se o fotógrafo é brasileiro, é fotografia brasileira, mas também se a fotografia se relaciona com o Brasil – temos um fotógrafo brasileiro, um japonês -, se é tirada no Brasil, isso também é fotografia brasileira. Temos também uma imagem de fotografia por satélite da Amazônia não é um um fotógrafo brasileiro, mas é também fotografia brasileira. Fotografia brasileira é qualquer uma que tenha relação com o Brasil. No caso de alguém como Marc Dumas, que é de Paris, as imagens foram feitas na Bahia, a conexão vem através da própria imagem. Quando o fotógrafo é brasileiro, como é o caso da maioria, por exemplo o Bruno Cals, ele faz imagens no Brasil, em Buenos Aires. No caso de uma foto de um prédio em Tóquio, por exemplo, a imagem não tem relação nenhuma com o Brasil, mas se relaciona com o País através do fotógrafo. Acho que é um caso único no mundo da arte ter um foco tão específico como é, no nosso caso, o Brasil.
Na seleção das imagens e dos fotógrafos vocês se preocuparam em não apresentar os estereótipos da violência, Carnaval e sexo sobre o Brasil?
Essa é uma pergunta muito boa. Estamos cientes do estigma sobre o Brasil. Por um lado, não estamos negando-o. Temos muitas imagens relacionadas a favelas e pobreza, mas estamos tentando fazer de uma maneira que mande uma mensagem social positiva. Sabemos que há muita tristeza e miséria, mas se pode achar algo artístico nisso, é uma maneira de mandar uma mensagem. É a realidade e temos de encará-la, não ignorá-la. O trabalho do Julio Bittencourt é muito carregado de mensagens sobre as questões sociais no Brasil. Murillo Meirelles tem uma série que está no nosso site, Kites, Pipas, tirada no [morro do] Vidigal, no Rio. Gustavo Pelizzon... Também há imagens que falam de uma lado mais obscuro do Brasil como a macumba. Mas também existem imagens que mostram um lado mais feliz. De uma certa maneira, as imagens do Murillo, apesar de tiradas na favela, são felizes e coloridas, têm crianças brincando.
Como você se interessou pelo Brasil?
Eu e Alex [Alexandre Bueno de Moraes], o meu sócio, somos amigos há 14 anos. Nós nos conhecemos na Espanha. Naquela época, ele morava em Nova York, mas ele voltou para o Rio em 2003 – ele é carioca. Ele abriu uma produtora e agência de fotografia lá que também se chama 1500 [Brasil]. Eu passei alguns meses aí, em várias viagens, e eu amo o Brasil. A minha ligação com o País é circunstancial, mas eu o amo.