Chama o síndico

As eleições para a Câmara Municipal de São Paulo mostram que os candidatos que representam idéias novas não conseguiram ocupar o espaço dos políticos de bairro

por Alê Youssef em

Por Alê Youssef*

O resultado da eleição para a Câmara municipal de São Paulo demonstra uma grande crise no chamado voto de opinião. Candidatos que representam idéias não conseguem vencer, com raríssimas exceções. Dentre os candidatos que focaram suas campanhas e propostas no público jovem, por exemplo, nenhum se elegeu, mesmo havendo mais de 2 milhões de eleitores nesse segmento.

Candidato da juventude empresarial, vinculado à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Ronaldo Koloszuk, do PPS, estacionou nos 7.211 votos, longe da vaga, apesar de uma campanha de boa visibilidade.

Um dos líderes do movimento estudantil brasileiro, Gustavo Petta, ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e candidato pelo PC do B, também ficou distante, apesar da exposição de mídia dada pelo seu partido. Ele apareceu em todos os programas do PC do B. Teve 13.525 votos.

Expressão do hip hop da cidade, o produtor e promotor de festas Primo Preto, que se lançou candidato pelo PSDB, também teve um resultado negativo. Apesar de focar sua campanha na periferia, parece que os manos e as minas do movimento não compraram a idéia. Somou 3.558 votos.

ELES CONTINUAM LÁ
O pior resultado entre os candidatos jovens foi o do ex-modelo e produtor cultural Beto Lago, criador do Mercado Mundo Mix e da Parada da Paz. O candidato, que se acostumou a lidar com multidões nos eventos que promove e foi apoiado por figuras da alta sociedade paulista, amargou pífios 471 votos.

A mesma coisa aconteceu com os candidatos do universo LGBT, apesar de São Paulo ser a capital da diversidade sexual, com a maior Parada Gay do mundo. Marcos Fernandes, do PSDB, fez uma campanha correta. Buscou apoio dos empresários do setor e teve a adesão do portal Mix Brasil. Mesmo assim, ficou nos 2.177 votos. Léo Aquila, candidato pelo PR, sempre teve grande exposição na mídia, por ser apresentador da Rede TV!. Obteve 6.515 votos. Salete Campari, do PDT, é figura emblemática da cidade. Com seu look Marilyn Monroe, a drag queen é bastante conhecida. Teve até trio elétrico próprio na Parada Gay. Teve 2.821 votos.

O legislativo brasileiro é dominado pelos políticos de bairro, aqueles que são eleitos por determinadas comunidades que buscam um representante para ser uma espécie de síndico do pedaço. Falta conexão entre o comportamento social e o voto. A juventude e a diversidade sexual são apenas dois exemplos, entre vários. Muitos dos que me lêem já devem ter se perguntado pelo menos uma vez na vida por que políticos envolvidos em escândalos conseguem se eleger. A resposta pode estar nos bairros onde eles montaram suas bases. A Câmara municipal teve apenas 12% de renovação. Todos eles continuam por lá...

*ALÊ YOUSSEF, 33, sócio do Studio SP, foi um dos idealizadores do site www.overmundo.com.br e coordenador da Juventude na prefeitura de São Paulo (2001-2004). Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br
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