Carro: uma jaula que se move.
Carro x Liberdade
Tenho certeza de que não sei quase nada. Não tenho qualquer ilusão quanto ao meu modesto conhecimento. Mas tem algumas coisas que assaltam os olhos de tão óbvias. Por exemplo, que democracia e liberdade não podem ser identificadas com produção e consumo. No entanto o Estado permite e a sociedade não se manifesta. Então liberdade de empresa, de circulação e de consumo é tudo o que acabamos conseguindo.
Vejamos, por exemplo, a questão do carro e da liberdade. O marketing nos impregnou com a idéia de que o carro representava liberdade (liberdade identificada ao consumo). A liberdade de locomoção ampliaria a liberdade de circulação. Não tenho carro e nem sei dirigir. Muita gente tenta me convencer a comprar carro.
De fato, parece mesmo interessante. Mas ultimamente já não acredito mais. Automóvel esta mais para uma jaula que se move do que o ampliador de liberdade que se pretendia. Porque com os engarrafamentos de trânsito tão frequentes, estar dentro do carro é pior que estar em uma prisão. O preso ainda pode relaxar. O que de pior poderia acontecer? Mas dentro do carro no trânsito ferrado é preciso estar atento. Porque parece incrível, mas a fila anda, metro a metro, mas anda.
Experimente parar para ver. O protesto em forma de buzinaço vai te deixar surdo. Estão todos extremamente nervosos ali, é perigoso. Cuidado. E não dá para abandonar o carro no trânsito e sair andando. Você perde o carro. Seguro algum cobre abandono de veículo no meio da rua. Você esta condenado a ficar ali atrás daquele maldito carro da frente.
Você escuta rádio, liga o som, vê televisão, DVD, lixa as unhas, retoca a maquiagem, mas não dá para se ligar em nada. Qualquer desatenção no trânsito pode ser fatal, sabemos. Você se desespera, fica hiper ansioso, roi as unhas até a carne, bate os pés formigando no chão, abre a porta, bufa e... mais dois metros. Engarrafamento de trânsito tritura os nervos até quando somos apenas passageiros momentâneos. Imagino o motorista então...
A gente não consegue se soltar do automóvel. Depois de termos um carro não andamos mais. Esquecemos as pernas, ficamos só com os pés para os pedais. Engordamos, viramos uma bola. Um ótimo conselho para quem vai comprar carro: compre um aparelho de ginástica junto.
Não sei se estou apenas racionalizando, teorizando, para não comprar um carro, mas coleciono motivos para não cometer essa “loucura”. Senão vou acabar comprando...
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Luiz Mendes
12/08/2011