Calcinhas voadoras
Chuva de lingerie durante show de Tom Zé resultou numa consagração universal das bocetas
As apresentações de Tom Zé no Circo Voador têm um histórico de conexão entre artista e público. Numa noite de agosto de 2011, um desses shows ficou conhecido como “a noite das calcinhas voadoras”. Uma fã levou uma peça vermelha, na qual se podia ler versos referen- tes à canção “Quando eu era sem ninguém” (acima), e atirou no palco. Foi o suficiente para que o cantor resga- tasse a calcinha, a colocasse na cabeça e iniciasse uma série de considerações sobre a intimidade feminina.
“A boceta é uma coisa tão comovente que eu passo a língua em qualquer uma!”, palestrou. “Desde que sou pequenininho que só penso em boceta. Engano vocês aqui fazendo música, mas estou o tempo todo pensando em boceta!” Outras mulheres passaram a arremessar calcinhas conforme ele as desafiava, dizendo que só conti- nuaria o show caso conseguisse uma dúzia delas.
A convocação não era em vão: na volta a São Paulo, Tom Zé decidiu consagrar as calcinhas em uma cerimônia mundana, lavando-as em casa, um ritual que foi registrado no educativo vídeo A lavagem das calcinhas voadoras, realizado pela produtora Pixel Banana. Nele, o cantor faz uma resenha das peças recolhidas, filosofando sobre “o humor interno da mulher” e “a pessoalidade do atolamento” enquanto evoca Tati Quebra-Barraco, Napo- leão Bonaparte, MC Bola de Fogo e o papa Gregório IV, não sem proferir novas pérolas como “eu vou lavar não para tirar o humor das calcinhas, mas para conservar”.
Pouco tempo depois, ainda em 2011, num show em Ouro Preto, foi o colega Jards Macalé que começou a brincadeira, arremessando ao palco duas calcinhas – e as mulheres complementaram com uma dezena. Nova- mente no Circo Voador, em 2012, no lançamento do EP Tribunal do Feicebuqui, a chuva íntima se repetiu. Perguntado sobre o fenômeno, o cantor, que está em estúdio gravando um novo álbum, disse: “Tenho paixão por calcinhas. Eu sou mulher, não sou homem, não. Tenho todas as características de uma mulher. Eu levo uma vida de sofrimento, assim como as mulheres. Por isso digo, viva as bocetas mais queridas!”