Brasílio de Oliveira

Irmão de Boni, considerado o 'Rei de Ibiza', e dono de um império que fatura milhões de euros por temporada, o empresário baladeiro se define como um 'voyeur da felicidade'

por Piti Vieira em

Brasílio de Oliveira é um cara estranho - e ele mesmo repete isso o tempo todo. Não estranho de esquisito, mas de surpreendente. Pra começar, ele é o cara mais famoso de Ibiza. Apesar disso, pouca gente na ilha reconhece seu rosto. Se um dia você estiver de bobeira por lá e cruzar com um tiozinho calvo, com barriga proeminente e camisa pra dentro da calça jeans, fique esperto porque pode estar cruzando com um mito. Esse paulistano de 57 anos é o rei da ilha mais badalada do mundo. Dono do clube mais famoso de Ibiza, o Amnesia, que reúne 8 mil pessoas por noite e fatura 10 milhões de euros só durante o verão, Brasílio também é sócio de mais três restaurantes (entre eles o La Barraca, o melhor da ilha) e alguns bares. Mas se define como remediado e sempre dá um jeito de mudar de assunto quando se tenta medir seu patrimônio.

Radicado na Espanha há 30 anos, é amigo do rei Juan Carlos e foi confidente de Cristina Onassis. Conhece toda a fauna do planeta "chiques e famosos", mas prefere a companhia de seu guarda-costas (e dos videogames). Faz as melhores festas do mundo há 30 anos, mas nunca comemorou um aniversário. Tem no armário dezenas de pares de sapatos grifados, mas só usa um. Preza tanto sua liberdade, que não divide a cama com ninguém - eventuais acompanhantes têm de dormir no quarto de hóspedes. Só aparece no escritório quando os funcionários estão fora fazendo siesta e deu ordens expressas para que a arrumadeira só chegue em casa depois que ele sair.

As surpresas não páram por aí. Brasílio é o irmão caçula de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-todo-poderoso da Globo. Mas detesta televisão - e odeia falar da família. Não, ele não é brigado com ninguém. Boni vai sempre a Ibiza, e Brasílio passa pelo menos seis meses por ano no Brasil, hospedado na casa da mãe ou na do irmão em Angra. Mais que isso, foi ele quem apresentou Boni a sua mulher, Lou, ex-dançarina de um dos clubes de Brasílio, assim como Victoria Beckham. O que Brasílio não gosta é de ser assediado. Tanto que troca o número do seu telefone celular todo mês para não ser incomodado. Volta e meia, se esquece de avisar aos parentes da mudança de número e deixa a família maluca. Ao saber que havíamos estado com Brasílio em Ibiza, a secretária do Boni ligou para a redação da TRIP para saber se não tínhamos o novo número dele, pois o patrão estava à procura do irmão há quase um mês.

Apesar de tanta excentricidade, Brasílio não é um porra-louca. Tem "olhos" em todos os lugares da ilha, sabe o que cada funcionário fez ou deixou de fazer e confere diariamente quanto cada casa faturou - em euros e em pesetas. Diz que só concordou em receber a reportagem da TRIP porque sabia que a revista não era "rosinha", do tipo que só se preocupa em mostrar o lado pink da vida de celebridades, status que ele abomina. Na semana que a TRIP passou em Ibiza, o repórter Moacyr Vieira Martins jantou todas as noites com Brasílio, visitou sua casa duas vezes, conversou e caiu na balada com as pessoas mais próximas do empresário, seguindo conselho dele próprio. "Quer me conhecer melhor? Pergunte para quem convive comigo como eu sou. Acho muito mais real do que eu mesmo falar o que eu fiz ou deixei de fazer."

 

"Meu conceito de boa vida é fazer o que eu quero. Para mim o maior luxo não é ter avião, bens, é poder acordar a hora que eu quiser"

 

TRIP Vamos começar falando um pouco de você. Você me disse que se acha um cara estranho...
Brasílio Eu sou. Minha vida é muito estranha. E maluca. Nasci de uma família muito normal, que talvez você até conheça, mas eu nem quero saber de família. Para mim eu sou eu, Brasílio.

Conheço seu irmão [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-todo-poderoso da Globo]...
Não, não conhece meu irmão, não conhece ninguém. Tem gente que é muito famosa na minha família, mas não me interessa. Pode ser meu irmão, pode ser meu primo - o Julio Ribeiro, dono da Talent, já ouviu falar? A mãe dele é irmã do meu pai. Ele é meu primo-irmão, mas não o vejo há mais de 30 anos. Eu preferia nem falar de ninguém, porque eu sou eu, entende? Eu saí do Brasil. Eu era diferente, sabe? A gente pode falar de qualquer pessoa importante, eu conheço todos. Não do Brasil, do mundo inteiro. Porque no Brasil é todo mundo remediado, como eu...

Você é milionário.
Não, sou remediado. É o que eu mais gosto de ser. Mas, como estava dizendo, não vou falar de gente famosa do Brasil, porque conheço todo o mundo. Não quero dar uma entrevista rosa, porque sua revista não é assim. Não estamos falando de Caras , Contigo , porque aí eu nem daria entrevista.

Você sairia numa revista de celebridades?
Nunca. Eles estiveram aqui. Não tenho interesse nesse negócio, não estou preocupado com minha família, isso não interessa. Sou meio maluco. Tá vendo aquela porta? [Aponta para a porta de seu apartamento.] Ela não se abre para qualquer um. Deixei você ficar bem próximo a mim para ver como sou e poder contar a verdade para as pessoas. Acho esquisito eu falar de mim. Nunca dou entrevistas. Uma vez, a Stern [espécie de Veja da Alemanha] me pediu uma entrevista, e eu disse que era melhor eles perguntarem para quem convive comigo como eu sou. Acho muito mais real que eu mesmo falar o que eu fiz ou deixei de fazer, porque eu fiz muita coisa. Não vou ter falsa modéstia. Não sou dono de porra nenhuma, mas sou muito mais que o dono de tudo, compreende?

Não.
Não tenho esse afã de dizer que sou o proprietário disso e daquilo, sou o dono, o bambambã. Não quero ser o bambambã. Quero ser o Brasílio, que todo o mundo respeita, porque ele é o Brasílio, não por causa do poder dele, porque pode mandar qualquer um embora, esse tipo de coisa. Não quero que alguém me respeite porque tem medo de mim. Nem com a minha empregada quero que seja assim. Eu nunca despedi um empregado. Não quero que ninguém me tema porque eu mando. A coisa mais fácil do mundo é falar: "A la puta calle, estás despedido", "I will fire you", como o Donald Trump tanto gosta de fazer. Encontrei com ele recentemente no Cipriani [estrelado restaurante de Nova York]. Estava com uma amiga minha, e ela falou: "I will fire you!" [por causa do reality show dele, O Aprendiz ]. Foi muito engraçado esse dia. A gente estava com a Bianca Jagger e a Carmen D'Alessio, que foi relações-públicas do Studio 54. Elas morreram de rir.

E se a pessoa não for competente?
Para mim não tem esse negócio de despedir. Outro dia me falaram que um empregado não servia para o bar porque ele conversava muito. E eu disse: "Se não serve para o bar, ele pode ser relações-públicas, já que só fala, não trabalha". Todo o mundo sempre serve para alguma coisa, se tem boa vontade. E você percebe isso quando vai contratar. Eu sempre prefiro mudar do que mandar alguém embora. Se me colocassem de garçom, eu ia ser despedido na hora porque não sei servir. Você me viu te servindo agora. Não achava o gelo, o copo [risos] . E olha que estou na minha própria casa. No réveillon do Amnesia, monto um bar só pra mim, pra brincar de barman. E é um desastre. Pedem uísque, eu sirvo vodca. Pedem cerveja, eu dou um uísque. Sempre acham que é um camareiro atrapalhado, porque quem não é de Ibiza não me reconhece. Também não cobro o que sirvo. E me divirto. Pra mim, isso é o mais importante: me divertir muito e quem estiver perto também.

Quantas pessoas trabalham para você?
Umas 250 no total.

Como é seu dia-a-dia?
Acordo geralmente às 15h. Ouço meus discos e me dou uma hora, duas. Isso é meu luxo. É o tempo de fazer a barba, tomar meu café italiano, não fazer nada, ler o jornal, comer uma mozzarella de búfala. Saio antes que chegue a empregada. Ela tem ordem para chegar depois, porque não quero ter que conversar com empregada. Vou para meu escritório, que nessa hora está vazio - os funcionários estão na siesta e só voltam depois das 17h. Vejo tudo que tem pra mim - minha secretária já deixa tudo anotado, todas as chamadas - e saio antes que eles voltem. Tenho tudo muito controlado. Todos os números na minha mesa, de quanto vendeu, de cada bar, o total em euros e em pesetas. Vejo tudo, mas é coisa de segundos, porque eles já deixam tudo separado pra mim. Tenho algumas sociedades com outras pessoas, mas eu faço o controle de qualidade de todos os negócios.

Você parece estar sempre de bom humor. É verdade?
Graças a Deus. Se não estou de bom humor, é porque estou pensando.

O que te estressa?
Não sei. Tudo o que é demais me estressa.

O quê? O trabalho?
Não, trabalho não. Porque não trabalho muito, eu só engano [risos]. Trabalho só no verão, três meses por ano. Não dá pra falar que eu trabalho muito, que sou estressado por isso. Mas, se for preciso, eu trabalho.

BATE-BOLA

Esse tempo todo que você tem de night life, qual você acha que foi a grande musa?
Ah, não sei. Não dá para falar, são muitas... Vou falar Madonna? Gisele Bündchen? Acho que mulher é uma coisa muito especial, sabe? É um mundo, não dá para falar uma. Mulher é um sexo forte. É quem manda. Quem manda em todos meus amigos são as mulheres deles, alguns nem percebem, mas elas quem mandam [risos].

Você tem manias?
Sou muito de hábitos. Acordo na mesma hora, levanto, vou sempre no mesmo lugar...

Qual sua idéia de felicidade perfeita?
Isso não existe. Felicidade perfeita não existe. O que existe são momentos felizes.

Qual foi a maior extravagância que você já fez?
Acho que eu fiz todas já. Sempre foi muito extravagante tudo. Algumas são inconfessáveis. Aliás, extravagância mesmo é inconfessável, né?

Você é um cara realizado?
Sou, bastante, poderia ser mais.

Você faz as coisas para você mesmo ou pros outros?
Para mim. Sou muito autocrítico. Para os outros também, mas principalmente para mim, para eu ver o que eu fiz.

Você acha que as pessoas têm medo de você?
Não. Porque faço questão não deixar isso acontecer. A coisa que eu mais odeio é que alguém tenha medo de mim. É que eu sou muito estranho... Não pergunto nem hora, eu nunca usei a buzina do meu caro. Se eu quero passar na rua e tem alguém na frente eu atravesso do outro lado, mas não peço licença.

Como você avalia sua carreira?
Minha carreira? Eu me fiz. Self made, no meu ramo. E muita imaginação. Tudo é imaginação.

Mas ela foi sempre uma carreira ascendente?
Sempre. Eu sempre gostei de coisa muito difícil. Eu preciso de desafio. Você não me conhece [risos]. Aquilo que você fala "isso aqui você pode fazer um galinheiro porque não vai funcionar nunca". Esse Salsalito que eu abri: três anos fechado, sem ir ninguém. "Você é maluco de pegar isso." Por isso eu peguei.

Você costuma rir de você mesmo?
Sim. A ironia é fundamental. E também dar risada das coisas que você faz, das besteiras.

O que te fascina mais da vida noturna?
A diversão, o ócio. Acho que a pessoa que trabalha tem todo direito de ter uma válvula de escape. Com a evolução do mundo , as pessoas vão ter mais tempo de ócio. Acho muito importante o ócio na vida da pessoa. Não só o trabalho. A formiga e a cigarra , as duas são importantes. A parte que a cigarra faz é muito importante pra formiga.

No que você costuma gastar dinheiro?
Eu reparto muito com todo mundo que está em volta .

Você dá muito presente?
Não é que eu dou presente. Eu reparto. Divido. Porque acho que quem divide, multiplica. Eu não preciso de muita coisa.

Do que você precisa?
De carinho, amigos, disso tudo. Esse negócio que eu tenho, meus amigos.

O que você queria ser quando você crescesse?
Ah não, eu não quero crescer nunca... [Risos]. Tá bom assim, quero ser sempre o Brasílio.

Leia a íntegra da entrevista no Google Books

Crédito: Reprodução/Arquivo Pessoal
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Crédito: Moacyr Vieira Martins
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