Brasil, uma potência perigosa
Um projeto para o Brasil é conquistar o mundo usando como armas o acolhimento e a mistura
Quer um projeto para este país? Conquistar o mundo usando como armas o acolhimento, a consideração e a mistura
Caro Paulo,
“O Brasil é a potência mais perigosa do mundo porque fascina, encanta, envolve...”
Foi assim que o jornalista haitiano Patrice Dumont descreveu o Brasil no documentário O dia em que o Brasil esteve aqui, de Caito Ortiz, sobre a passagem da seleção brasileira e das nossas forças armadas em missão naquele país. O jornalista fundamentou o fascínio citando primeiro o nosso futebol, depois as mulheres, o samba e a bossa nova.
Confesso que nunca vi uma síntese tão bela e precisa do que é ser brasileiro. Tinha que vir da perspectiva do outro, do não brasileiro, de alguém que nos vê com a isenção da origem, da história vivida e do pertencimento. Na minha compreensão ele disse que o Brasil é aberto, não é fechado. Por isso não ameaça com a exclusão e encanta com o acolhimento, com a consideração, com a mistura e a interação. E o fundamento é perfeito: o que há de mais misturado e brasileiro do que nosso futebol, nosso povo e nossa música?
Em outras palavras, nossa identidade pode ser definida como uma mistura permanente, não uma mistura pronta, mas um constante vir a ser que acolhe e considera o outro num processo vivo, alegre e interativo em busca de nada, apenas da manutenção do próprio processo, divertido e criativo, de vir a ser. É daí que nasce a minha birra com o nacionalismo brasileiro que me lembra das fronteiras políticas que nos separam do resto do mundo, reduzindo o potencial de realização de nossa missão de conquistar o planeta com as perigosíssimas armas do fascínio, do encanto e do envolvimento.
Alma planetária
Ser brasileiro não tem a ver com a instituição Brasil que pede um governo, uma hierarquia e limites claros de onde começa e onde termina, definindo amigos e inimigos dos filhos deste solo. OK, OK. Um governo é necessário. Então que seja um governo que não busque a inserção do Brasil num mundo fragmentado e decadente, com uma economia internacional frágil porque não se integra como um sistema interdependente, com um meio ambiente em risco porque foi loteado pelos poderes políticos e ignorantemente gerenciado em nome da sobrevivência e dos interesses econômicos.
Que seja um governo que comande a conquista do mundo por meio da mistura gostosa e surpreendente que gera ao mesmo tempo riqueza material, social, afetiva e espiritual e que, por isso, é sustentável. Que saiba reconhecer o meio ambiente como um lugar comum de todos os povos, sem bandeiras nem fronteiras políticas que impeçam o livre exercício da ciência na sua gestão.
A alma brasileira é planetária, nela reside não um projeto de país, que isso é pouco e pobre, mas um projeto de ser humano mais próximo de sua humanidade, aberto, interativo, afetivo e criativo. Falo por mim, legítimo brasileiro de sangue tupi, italiano, português e austríaco, cujos netos enriquecem ainda mais essa mistura com o escocês e o libanês.
Quer um projeto para este país? Conquistar o mundo. E, nesse dia, deixar de ser um país para ser apenas um jeito de ser de todo mundo. Utópico? Sonhador? Isso é tipicamente brasileiro...
Meu abraço brasileiro,
Ricardo
*Ricardo Guimarães, 60, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail é rguimaraes@trip.com.br