Brasil que vale a pena
Concordo com Hermano Vianna quando ele diz: “O Brasil não para de surpreender”
Apesar de tantos problemas, não tenho dúvida de que o país vai dar a volta por cima. Mesmo com a energia negativa e o pessimismo no ar, concordo com Hermano Vianna quando ele diz: “O Brasil não para de surpreender”
No início de 2012, quando estava no auge a ideia de que o Brasil tinha dado certo, com a capa da revista The Economist dizendo que o país decolou, falava-se em pleno emprego,
pré-sal, euforia com Copa e Olimpíada, escrevi um artigo na Trip chamado “Brasil (im)potência” (tinyurl.com/le3w3el). Nele eu dizia: “Está na hora de aplicar uma ducha fria na ideia do país como superpotência. Excesso de autoestima também faz mal. Vira uma força paralisante. Parece que já está tudo certo e não precisamos fazer mais nada. Para ser superpotência é preciso um conjunto institucional complexo”.
Naquele momento em que predominava o delírio coletivo (e propagandístico) de que estava tudo certo com o país e que estávamos seguindo no rumo inexorável do desenvolvimento, achei importante baixar a bola e pensar no quanto ainda estava por ser feito. Corte para o começo de 2014. O país é outro. A autoestima desinflou, as ruas emanam todos os tipos de frustração por meio de protestos, polícia e black blocs e há um clima de suspeição generalizada com relação à Copa. Já o pré-sal – antes nossa carteirinha de admissão ao clube do desenvolvimento – anda ofuscado pelas baixas históricas das ações da Petrobras.
Com tudo isso, é hora de fazer exatamente o contrário do que fiz em 2012. Em relação à eterna dúvida “Brasil: ficar ou ir embora?”, minha resposta imediata, sem sombra de dúvida, é: FICAR. Assim mesmo, com letras maiúsculas. A razão é que, apesar de tantos problemas e desafios, não tenho dúvida de que o país vai dar a volta por cima, de novo e quantas vezes for preciso.
Mesmo com tanta energia negativa, pessimismo e oportunismo no ar, concordo com Hermano Vianna quando ele diz: “O Brasil não para de me surpreender”.
Novos Zuckerbergs
Não só somos uma democracia robusta, como estamos abertos a ampliar as formas de participação democrática. O Congresso, apesar de tantos problemas, criou até um laboratório hacker para servir de tubo de ensaio para novas formas de participação popular. Que outro país fez isso? A criatividade e o desejo de empreendedorismo dos brasileiros só se comparam aos dos americanos. Isso é visível do topo à base da pirâmide social. Por exemplo, uma das coisas mais legais do país hoje é a onda de jovens empreendedores da internet que está tomando conta do país. São muitos os garotos e garotas que querem ser o próximo Mark Zuckerberg. Precisam ser incentivados. Nas favelas, projetos como o Favela Holding, capitaneado por Celso Athayde, pensa grande em como impulsionar o empreendedorismo local – que sempre foi forte – dialogando cada vez mais com o mercado formal.
O Brasil pode ser o laboratório mundial da sustentabilidade. Da nossa agricultura à base energética, temos reunidos todos os fatores para dar lição ao mundo sobre como evoluir as bases do desenvolvimento para outro patamar, que aprenda, inclusive, com a riqueza dos modos de vida tradicionais daqui. É só querer.
Democracia, criatividade, empreendedorismo e sustentabilidade. Estão aí quatro pilares de dar inveja a qualquer país do mundo e que não vejo reunidos em nenhum outro lugar. Se você é jovem e está pensando em sair do país, tenho certeza de que ao menos um desses temas deve te interessar. Se isso for verdade, fique no Brasil e faça ele acontecer.
*Ronaldo Lemos, 37, é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu Twitter é @lemos_ronaldo