Board boys

Pedro foi finalista da Megarrampa aos 14 anos e Gabriel levou uma etapa do WQS aos 15

por Caio Ferretti em

Um pai construiu um half no quintal. o outro inscreveu o filho em campeonatos de surf desde cedo. Deu certo. Pedro foi finalista da Megarrampa aos 14 anos. E Gabriel levou uma etapa do WQS aos 15

Do topo da rampa de 27 m de altura, ao lado do ídolo Bob Burnquist e de outras lendas do skate, o moleque de 14 anos olhava para baixo e encarava a enorme ladeira que droparia na sequência. Pedro Barros poderia se gabar só por estar ali. Afinal, o próprio Bob sempre diz que a Megarrampa é para um seleto grupo de skatistas – e disso ele entende, tem uma em casa. Pedro é novo, mas já faz parte desse grupo. Não bastasse encarar o desafio, ainda desbancou muito skatista rodado para ir à final da competição e levar o quinto lugar.

Um resultado inesperado que veio cedo – assim como sua primeira experiência em cima do skate, na infância em Florianópolis. “Comecei com mais ou menos 1 ano de idade”, garante Pedro. “Eu achava que era um carrinho gigante e comecei a usar como meio de transporte, porque pra mim era mais fácil assim.” O carrinho gigante logo virou esporte, e aos 3 anos Pedro ganhou o primeiro apoio. Uma marca de skate viu futuro no moleque e passou a abastecê-lo de materiais.

A aposta da marca foi arriscada, mas não demorou para dar retorno. Aos 6 anos, enquanto as outras crianças da sua idade ainda cursavam a pré-escola, Pedro se mudou com a família para a Austrália. “Lá participei de umas 12 competições, evoluí muito”, diz. Voltou ao Brasil três anos depois com alguns títulos internacionais no currículo. Por aqui recebeu a surpresa: seu pai havia construído um half de 4 m no quintal de casa. E não parou aí. Hoje, além do half, Pedro tem dois bowls no quintal. “Pretendemos um dia ter no quintal algo tão bom quanto o Bob tem, a Megarrampa, o looping...”, imagina.

Enquanto isso não acontece, Pedro continua treinando na Megarrampa do Bob, na Califórnia. “Tudo o que eu fiz na mega este ano foi graças ao Bob”. Então vai dar pra ganhar o título dele daqui a uns anos? “Nem fuu... Tirar o título do Bob só quando ele se aposentar. E ele nem pensa nisso.”

Surf agressivo
O resultado daquela final parecia óbvio. No mar, disputando o título da etapa do WQS (World Qualifying Series) na praia Mole, estavam Neco Padaratz e Gabriel Medina. Neco, além de competir em casa, ainda tinha a seu favor toda a sua experiência. Afinal, ele soma mais anos de surf do que Gabriel tem de vida. Detalhes. Nada disso evitou que no confronto entre gerações o prêmio de US$ 20 mil ficasse com o moleque de 15 anos. Revelação no Circuito Mundial, Gabriel é o mais jovem vencedor de uma etapa do WQS.

Ele não imaginava ganhar um título dessa dimensão tão cedo. “As coisas simplesmente aconteceram. Meu pai foi me colocando nas competições desde pequeno e assim cheguei até aqui”, afirma. Méritos de seu pai. Surfista, foi ele quem deu a primeira prancha a Gabriel quando este ainda tinha 8 anos. Apenas um ano depois o prodígio entrou nos primeiros campeonatos em Maresias, onde mora desde que tinha poucos meses de vida.

A evolução aconteceu rapidamente. Fã do surfista australiano Mick Fanning – “acho ele bem melhor do que o Kelly Slater” –, Gabriel optou por seguir um estilo de surf característico da nova geração. “Gosto de manobras de aéreo. No WCT (World Championship Tour, principal competição do esporte), os surfistas não usam muito os aéreos, mas em competições da nova geração, como o Pró Júnior, usam bastante. É uma manobra moderna, os juízes gostam, é difícil... O surf tem que ser mais agressivo, fica mais legal quando é assim.”

Se depender de Gabriel, essa agressividade chegará ao WCT. “Claro que eu penso em estar lá, só não consigo imaginar daqui a quanto tempo isso acontecerá. Não planejo, deixo acontecer.” Sem pressa, ele simplesmente espera pelo futuro que parece óbvio.

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