Bhagavad Gita e o Teflon
O Livro e a Flor de Lótus
O entendimento da leitura é trabalho mental que progride na medida exata que exercido. Ler, escrever, falar, e outras formas de entender e expressar, são meios que temos de estabelecer relação com a vida. São maneiras de conectar cada um de nós à realidade de todos.
Tudo, absolutamente tudo pode ser mudado através da leitura. Inclusive nossa visão de mundo. Quando preso, ler e viajar, mesmo sem sair do lugar, alimentou minha sanidade. Escrever foi porque no meio do caminho sempre havia a incômoda pedra de Drummond e no fim da caminhada, prometia Jorge Amado, haveria uma morena...
Quando lemos, trazemos o mundo de fora para dentro. Quando escrevemos, trazemos o mundo de dentro para fora. É como aspirar e expirar; tão velho quanto o homem. Na Índia dos antigos Vedas e seus livros sagrados que, segundo nos diz a tradição, possuem mais de 10 mil anos, o ato de respirar era sagrado.
O propósito de minhas Oficinas de Leitura e Texto é seduzir os participantes para o prazer da leitura e da escrita. Não tenho o menor pudor em confessar. E, para convencer, depois de muita conversa, acrescento que há livros milenares, como a Bhagavad Gita (um dos Livros dos Vedas), que nos trazem emoção até hoje. E para muitos, experiências de auto-realização. A Bíblia tem aproximadamente 5 mil anos de idade. As histórias de Ruth e de Rachel, por exemplo, são empolgantes até hoje. O Alcorão tem 1500 anos, e não é um livro histórico. Mas quantas paixões já não se justificaram em cima de seus 6 mil versos de orientações...
Isso acontece porque a vida, o coração, de quem leu, amou, adorou estão lá impregnando cada uma daquelas letras. Os leitores acabam sendo mais importantes que os autores. São as emoções vividas na leitura que sustentam a obra no tempo e a torna imortal.
É prazer imenso ler. É também maravilhoso criar leituras para que outros leiam. Mas, nada é mais gratificante que elaborar teorias a partir de observações, falar embasado em experiências e depois comprovar. Na Bhagavad Gita há um verso expressando que a Flor de Lótus que não pode ser molhada, assim como quem se liberou dos desejos não pode ser maculado pelo mal.
A partir de 1970 cientistas começaram a pesquisar a impermeabilidade da Flor de Lótus. Em 1990, ao examiná-la com o microscópio eletrônico descobriu-se que sua superfície é composta por microcavidades e micromontanhas. A água ao cair na folha não consegue remover o ar das microcavidades e escorre pelas pontas das micromontanhas sem quase tocar na planta.
Esse conhecimento foi utilizado na construção de materiais autolimpantes muito mais eficiente que o teflon usado até então. Lentes que não retêm água, equipamentos óticos, de corte e instrumentos extremamente sofisticados para cirurgia tornaram-se possíveis a partir do princípio encontrado na Flor de Lótus. Poder-se-ia imaginar que foi aquele livro de 10 mil anos atrás quem trouxe esse conhecimento até aqui e agora. Não é uma comprovação do que digo sobre a atemporalidade do livro? Desculpem o tamanho do texto, mas é que a satisfação foi maior que o espaço.
**
Luiz Mendes
27/10/2011.