De igual pra igual

Depois de perder o braço em um ataque de tubarão, Bethany Hamilton virou uma grande surfista – sem concessões. Aos 27 anos, ela já escreveu seu nome na história do esporte

No dia 6 de agosto, em uma cerimônia feita anualmente desde 1997 em Huntington Beach, na Califórnia, o Hall da Fama do Surf ganhou dois novos nomes. Um deles é o australiano Mick Fanning, que, mesmo competindo com um Kelly Slater no auge, foi três vezes campeão mundial – uma escolha óbvia. A outra escolha, Bethany Hamilton, pode não parecer tão óbvia em se tratando de títulos (ela não foi campeã do mundo), mas faz sentido levando em conta o que essa havaiana de 27 anos representa: Bethany é uma surfista de qualidade indiscutível, parte da elite competitiva do esporte, e uma das principais divulgadoras do surf pelo mundo.

Ela também só tem um braço.

Bethany tinha apenas 13 anos no dia 31 de outubro de 2003, quando foi surfar com a família de sua amiga, Alana Blanchard (que depois também se tornaria surfista profissional), na ilha de Kauai, onde as duas nasceram. Naquele dia, ela foi atacada por um tubarão-tigre de 4 metros, que arrancou seu braço esquerdo. O incidente poderia muito bem ter interrompido a sua carreira, que, ainda que curta, já era bastante promissora – alguns meses antes, ela havia ficado em segundo lugar em um campeonato nacional amador, e já tinha patrocínios desde 1999. Mas não foi o caso: Bethany voltou ao mar um mês após o ataque e apenas dois anos depois foi campeã nacional amadora.

Sua carreira no circuito profissional é impressionante. No ano passado, ela ficou em terceiro na etapa de Fiji do campeonato, numa performance que incluiu ganhar da hexacampeã mundial Stephanie Gilmore e de Tyler Wright, primeira colocada no ranking da WSL. “As dificuldades que ela supera para se apresentar nesse nível no oceano são indiscutivelmente sem paralelos no esporte masculino ou feminino”, disse Kelly Slater sobre o resultado em Fiji.

Bethany, porém, não fica pensando no fato de que surfa com apenas um braço. “Eu não penso ‘nossa, mandei bem com um braço’. É só: ‘Nossa, mandei bem naquela onda’”, ela disse ao Guardian no ano passado, depois de ser indicada ao prêmio ESPY de melhor atleta mulher com uma deficiência (ela considerou pedir para sair da competição; acabou ficando, mas não ganhou, o que, disse, seria “como voltar à primeira casa”).

Mas não é só de resultados que é feita a história de Bethany: aproveitando a quantidade de mídia que recebeu desde o ataque, ela virou uma das principais embaixadoras do surf. “Bethany se tornou uma inspiração para milhões de surfistas e não surfistas ao redor do planeta com sua história de determinação, fé e esperança”, diz o comunicado do Hall da Fama do Surf. Ela tem uma ONG, a Friends of Bethany, que ajuda outras pessoas que foram amputadas, e viaja o mundo não só para surfar, mas também para dar palestras motivacionais. Também é mãe de Tobias, 2 anos.

Bethany publicou uma autobiografia em 2004, Soul surfer, que foi um best-seller e serviu de base para o filme homônimo de 2011, com AnnaSophia Robb, Helen Hunt e Dennis Quaid. Um novo documentário mostrando sua vida como uma das melhores surfistas do mundo, Unstoppable, deve ser lançado ano que vem.

Créditos

Imagem principal: ED SLOANE/REX/SHUTTERSTOCK

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