O desejo por uma vida mais simples

por Autumn Sonnichsen
Trip #256

”É fácil deixar a vida mais simples quando dá para tomar uma ducha gelada num sol de 38 graus ao lado de uma mulher bonita e de um abacateiro cheio de fruta”

Me falam de uma vida ao ar livre. Me falam de como é gostoso sentir o vento na pele nua, tomar uma ducha no jardim, fazer xixi no mato. A gente volta a ser bicho, a gente se aproxima do que a gente já foi, do que ainda queremos ser. Simplificamos a vida. É fácil deixar a vida mais simples quando dá para tomar uma ducha gelada num sol de 38 graus ao lado de uma mulher bonita e de pele firme, no quintal de uma casa com uma cerca, com potinhos de feijão na geladeira, um abacateiro cheio de fruta. É mais fácil ser bicho quando a gente já é protegida por aquilo do qual queremos nos libertar. Às vezes tenho vontade de saber como é morar no mato de verdade. De ter as costas fortes de tanto subir em árvore, as solas dos pés duras de tanto andar na pedra. Dá pra ter isso? Quero respirar forte. Quero parar de lembrar do passado. Quero parar de acreditar no futuro. Quero ter uma vida mais primitiva, uma vida sem memórias. Mas eu tiro foto, eu vivo de memórias, meu presente é um presente que sonhei. Queria ser fazendeira, mas não sei cuidar da terra. Vou virar pescadora. Vou ter as mãos cheias de calo, vou ter um barco pequeno com a teca manchada de sangue, vou acordar com o ritmo do mar do meu lado. Quem sabe um dia. Até lá, tem a Luiza, as sardas que ela mostra com orgulho e o sorriso delicado que ela esconde, em um verão daqueles que estão presos na memória.

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