Não acredito que exista a união ideal e muito menos a comunicação total que tanto romanceamos ou apenas ansiamos. Não há nada que nos salve do isolamento em que vivemos e assim separe a palavra do silêncio. Esse vazio que nos faz arrepiar de medo diante do que mais nos apavora: a solidão. Produzimos mal entendimentos, mágoas involuntárias e acerbos sofrimentos, até sem querer. É preciso nos vigiar e muito atentamente, como verdadeiros espiões de nós mesmos, para não atingir os outros com nossas vicissitudes. A outra pessoa também se defende de nós. Parece se reservar em seu mistério e sua privacidade intransponível. Construímos pontes e o outro nos recebe com paredes de concreto armado. Somos enrolados, tímidos, medíocres, rancorosos, vingativos, quando não arrogantes e metidos ao que não somos. A palavra perfeita que produz o diálogo total é um mito que perseguimos, mesmo sabendo ser uma expectativa infundada. Nada do que fizermos será absoluto, completo ou total. Não conseguimos produzir sequer o razoável, como querer o perfeito? Amamos, mas queremos controlar com medo de perder. Ficamos sós e a nossa natureza clama por diálogo, afeto e compreensão. Vivemos frustrados porque falamos, mas não conseguimos nos fazer compreender no que há de realmente importante ou fundamental a dizer. Preferimos calar, isolar do que assumir as consequências do que falamos ou fazemos. Não sabemos como conhecer o outro e não sabemos nem a que distância estamos de um dia chegar a saber. E não falo o outro distante, lá longe ou até em outro país, e sim do pai, mãe, esposa, filhos e agregados. Mas, também desconhecemos quase tudo sobre nós mesmos, como poderia ser diferente?
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