Auto-arte sensual
A Trip convidou 5 artistas para produzir autorretratos e pensar: o que é sensualidade?
Todos os meses, a Trip traz um ensaio feminino em suas páginas e no site. As nossas Trip Girls sempre são retratadas de maneira sensual, em poses tanto bonitas quanto provocativas. Nesses casos, há sempre um fotógrafo e toda uma equipe em torno decidindo os melhores takes, o cenário, a luz, o figurino etc. Surgiu a curiosidade: e se as mulheres retratadas decidissem, elas mesmas, tudo o que envolvesse as imagens?
Resolvemos então propor essa ideia a cinco artistas. Pedimos que criassem uma obra em que tudo era livre: o modo de fazer e o conceito do que é provocante. O convite gerou um pouco de apreensão em algumas delas, inicialmente, mas no fim, todos toparam e tiveram muito prazer em participar.
A proposta deu bons frutos e surpresas nas obras: um vídeo que esconde enquanto mostra (de Adriana Affortunati), uma foto de um ângulo inusitado do corpo (Fernanda Alexandre), a mistura de sensualidade com arte clássica (Marcela Tiboni), uma representação conceitual do corpo feminino (Luiza Crosman) e uma fotografia em que desenho e realidade se misturam (Cris Bierrenbach).
Cris Bierrenbach
Paulistana, 45, começou a trabalhar como fotógrafa na Folha de S.Paulo depois de deixar os estudos acadêmicos de lado (estudou geologia e cinema). Faz fotografia, vídeo e performance.
“Faço muitos autorretratos, mas mostro muito poucos. O autorretrato para mim não tem a ver com a sensualidade, mas com a tentativa de entender as possibilidades expressivas desse mecanismo que a gente carrega. ou nos carrega.”
“A imagem que aparece na foto [a que ela segura contra o seio], é o postal/cartaz de divulgação do longa FilmeFobia, no qual fiz direção de arte. O autorretrato foi feito hé exatamente um ano, no Hotel Nacional de Brasilia, durante o Festival de Cinema onde eu e o filme fomos premiados.”
Marcela Tiboni
Formada em Artes Plásticas pela Fundação Álvares Penteado, a artista paulistana de 27 anos faz uso de seu próprio corpo para executar seu trabalho. Procura misturar a história da arte com linguagens contemporâneas, utilizando-se de fotografia e vídeo.
“Quando olho para os personagens femininos pintados por grandes artistas, sinto um mix de encanto e vontade de tocar. De verdade eu queria poder entrar em uma pintura e conviver com aquele personagem, já não sei se quero roubar-lhe a identidade e tornar-me pintura ou se quero dar-lhe meu corpo e minha vida e trazê-lo de volta a vida contemporânea”
Luiza Crosman
Carioca formada em design, 22 anos, mora na Gávea (bairro da capital fluminense) e cita como influências os artistas Tunga e Hilal Sami. Estuda pintura, gravura e teoria, apesar de já ser formada em design.
“Nos meus desenhos, costumo trabalhar com a imagem do corpo como um espaço - um lugar de transformação e exteorização dos processos internos - e eu nunca tinha levado esse caminho para o lado da sensualidade. Acredito que arte tem que ser digerida, requer envolvimento, tanto para o artista quanto para o público. É um processo que acontece em conjunto.”
Flickr da artista
Fernanda Alexandre
Tem 29 anos, formada em Artes Visuais, além de ser influenciada por artistas como Edith Derdik, Marco Buti, Celia Euvaldo, Fernanda também tem interesse por filosofia, particularmente pelo autor francês Merleau-Ponty
“Como artista pesquiso questões do corpo, mas até receber a proposta do site nunca o havia pensado por um viés sensual, sedutor ou feminino. O que se tornou uma grande experiência, pois tenho por hábito de pesquisa perceber as nuances do corpo do outro e tornar este olhar para o meu próprio corpo foi muito enriquecedor”
“No livro "Segredos de uma Gueixa”, há um trecho em que o autor coloca que no ritual do chá (ritual muito comum realizado pelas gueixas), o quimono precisa deixar à mostra os punhos, pois no oriente está parte do corpo é tão sensual como as pernas no ocidente.”
Adriana Affortunati
Formada em artes visuais na Belas Artes de São Paulo, nasceu e mora na capital paulista e tem 27 anos. Lista como principais influências a escritora Clarice Lispector, filosofia (chegou a estudar o tema na Itália) e Arthur Bispo do Rosário
[VIDEO]http://p.download.uol.com.br/trip/adriana_affortunati.flv|[/VIDEO]
“Há mais ou menos um ano e meio me preocupei muito com a imagem feminina na mídia. procurava um modo de questionar a forma como o corpo feminino é explorado pela mídia. E a postura das mulheres quanto à isso. Mas o projeto ficou no papel (não foi adiante) e o incomodo não passou. Por isso me interessei muito por esta proposta, trazer uma outra forma de sedução que não precise de nudez ou poses sexuais - em contraponto às imagens que a revista está acostumada a mostrar. A princípio não queria sequer trazer meu corpo. Acredito que possa se falar de sedução com outros objetos. Mas foi uma exigência da Trip, o que acabou me desafiando mais ainda. Como mostrar meu corpo de forma sedutora, sem ser apelativa? (Afinal, não é muito mais sedutor quando quase se vê?).”
Blog da artista