Até parece fácil
Não há limites para Kelly Slater
Dois campeonatos com ondas épicas, duas vitórias de Kelly Slater. Depois das duas notas dez somadas na final em Teahupoo, Taiti, há duas semanas, ontem, em Restaurants, Tavarua, Fiji, o americano hexacampeão mundial de surfe somou incríveis 19,33 pontos para vencer a quarta etapa do WCT e assumir a liderança do ranking.
Enquanto seus adversários, surfando de frente para a esquerda (goofyfooters), tinham dificuldade para controlar a velocidade e o equilíbrio nos ariscos tubos que rolaram no último dia da prova, Slater, de costas para a onda, passeava por dentro dela, ficando cada vez mais dentro e mantendo controle absoluto. Fazia parecer fácil.
Suas vítimas nas duas finais, os gêmeos Hobgood, bem sabem que não é. No Taiti Damien saiu da água lesionado no ombro antes do final da bateria, e, ontem, C. J., campeão mundial em 2000, depois de ser arremessado duas vezes da prancha, ficou em combinação - quando o atleta precisa trocar as duas notas da soma - ainda no meio da bateria.
As vitórias de Slater sobre seus conterrâneos da Flórida o colocaram na reta para o sétimo título, não tanto pelos pontos que somou, até porque só foram disputadas quatro das 12 etapas previstas este ano, mas sim pela demonstração da sua atual condição psicológica, física e técnica.
Entrevistei Slater pela primeira vez quando ele tinha apenas um título mundial. À época seu único recorde era o de mais jovem campeão mundial, conquistado aos 20 anos em 1992. Perguntei qual era seu objetivo na carreira profissional e ele, de bate-pronto, respondeu que era ser o mais velho campeão mundial de surfe. De lá para cá foram seguidos recordes: de vitórias numa mesma temporada, sete, de premiação, de títulos, entre muitos outros. Faltam o de vitórias na carreira, que pertence a Tom Curren, com 33 conquistas numa época em que o Mundial contava com cerca de 30 provas por ano, e o da idade.
Em fevereiro deste ano o jovem de Cocoa Beach completou 33 anos. Em dezembro, quando termina a temporada, será quatro meses mais velho do que Mark Occhilupo, atual detentor do recorde, quando foi campeão em 1999. Tem 29 vitórias em provas do WCT, está, portanto, a apenas quatro do recorde. Em se tratando do maior fenômeno que o esporte já conheceu, dá até para divisar o desfecho. Ainda mais quando já se especula sobre a sua possível aposentadoria do Tour em 2006.
O Globe WCT Fiji também marcou a entrada de Bernardo Pigmeu, 21, e a volta de Guilherme Herdy ao circuito mundial. Eles substituem Damien Hobgood e Toby Martin contundidos e que devem ficar fora das competições por um bom tempo. Com isso o time brasileiro volta a ter nove atletas, a contar com a experiência de Herdy e com a juventude de Pigmeu, surfista que apesar da pouca idade se destacou na última temporada havaiana e foi um dos poucos a marcar presença numa sessão de treino em Cloud Break, bancada vizinha a Restaurants, que quebrou gigante esta semana durante a etapa de Fiji e obrigou a organização a trocar de locação.
NOTAS
Só para menores de 21 anos
A segunda edição do Oakley Junior Challenge aconteceu em águas catarinenses e ondas de até dois metros. Foram quatro dias, 16 convidados e baterias de uma hora. Hizunomê Bettero, que no ano passado, no Rio, perdeu para Mineirinho por cinco centésimos, ficou com o título.
X Games Ásia - mundial de skate
Sandro Dias voltou a acertar o 900º, sua manobra mais arriscada, conquistou o bicampeonato na Coréia e começou a luta pelo tricampeonato do WCS na liderança do ranking.
Rumo ao cume, finalmente
Ainda sob um clima instável, as expedições brasileiras no Everest saíram, na noite passada, rumo ao ataque final. Por razões de segurança, Rodrigo Raineri e Vitor Negrete usarão oxigênio suplementar, adiando o projeto de se tornarem os primeiros brasileiros a chegar ao cume sem esse recurso.