As crianças e o sentido da vida

por Luiz Alberto Mendes em

                 CRIANÇAS

 

Escurecia e eu estava jogando bola no quintal com meu filho e duas menininhas que moram em frente de casa. De repente, o moleque, que faria sete anos, caiu para a esquerda. Tentei jogar o corpo para barra-lo (já estava 4 a 1, para ele, é obvio), o moleque escorregou igual quiabo e lá foi o bobão do pai para o chão.

Quis rir mas doeu. Machucou meu braço, ralou o ombro e a pressão caiu vertiginosamente. Pesquei a mim mesmo de dentro do vórtice que ameaçava me engolir. Na boca, o gosto daqueles frutos ácidos e dentro dos olhos, vários sóis e estrelinhas.

Sai andando às cegas, trôpego, com sorriso mentiroso pregado no rosto. As crianças me olhavam. Nisso começou a garoar forte. Já sentiu uma tristeza mansa, assim lenta, sem motivo? Já estava bem, apenas a nostalgia que começava a pegar. A elegância da chuva me comovia, tudo, de repente, ficou tão leve... Fiquei olhando as crianças correndo debaixo da chuva alegres e saltitantes. A luz do poste destacava o brilho da cortina de pingos d'água. De repente senti que na existência das coisas esta todo sentido que há nelas. A chuva, a terra e o mato molhados.

Além de meus dois filhos, no quintal são mais três da vizinha da frente. Todos têm colegas e amiguinhos que vêm brincar em casa. Sempre tem crianças no quintal. As idades variam entre 6 e 10 anos.  As margens podem ser largas, mas por aqui o rio corre miudinho.

Não conheço essa paz constante de que falam os poetas, mas que pelo menos não a finjo. Sou o que em torno de mim esta. E essas crianças me garantem que não sou apenas um estúpido que pensa. Eles me encantam e enchem minha vida de sentido. São lindos, sadios e explodem de vitalidade. O riso, a luta, aqueles pequenos rostos vermelhos a suar esbaforidos, exprimem uma satisfação de viver que animaria até uma pedra. 

Nesses momentos, já nem sei se tenho uma alma ou um mar de ternura que se derrama sobre tudo que meu olhar alcança. Os sonhos nunca morrem, é o título de um livro. Deslocam-se, silenciosos e furtivos, para o esquecimento, diz o poeta. No entanto, ouso. Junto às horas mal vividas e empurro vida afora junto com os destroços do que tenho sido. Ainda não estou satisfeito; preciso de mais. E não vou esquecer.

O sentimento que enche meu peito, é de uma sabedoria que jamais quis. Foi espremida das dores, recolhida dos sofrimentos e dos terminais nervosos da tristeza e da solidão. Ainda caminho a invencível estrada, embora por conta dessas crianças, mais confortável e decididamente.

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Luiz Mendes

Um dia no passado...   

 

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