Arte não enguiça
Eles não são vendidos em galerias, nem lançados em vernissages, mas são obras de arte
Ferro, aço, plástico, borracha e toda a sorte de materiais pesados colocam o automóvel como mais um produto do mundo industrial? Não se o carro em questão for um autêntico Rolls-Royce
Eles não são vendidos em galerias, nem lançados em vernissages, mas são obras de arte. Pode não parecer, mas estamos falando de automóveis. Claro que não de uma carroça qualquer, mas dos membros da mais aristocrática linhagem da classe automotiva: o Rolls-Royce.
Surgida em 1904, da associação do piloto Charles Stewart Rolls e do engenheiro Frederic Henry Royce, a marca inglesa predileta de sua majestade construiu mais do que simples carros, adquirindo uma reputação de prestígio e status que a acompanha até os dias atuais. Por isso agrada mais monarcas e magnatas. Embora nem o camarada Lênin tenha resistido a sua estirpe britânica.
Obras assinadas
Da carroceria ao motor, quase todo o trabalho é artesanal, realizado por mãos hábeis e materiais de extrema qualidade. O painel, por exemplo, é esculpido em raiz de nogueira, enquanto todo o revestimento interno é o que os estilistas costumam chamar de alta-costura, feita com legítimo couro Conolly. “Couro de gados confinados. Tudo para não haver cicatrizes ”, detalha o paulistano Paulo Loco Figueiredo, 47 anos, proprietário de um Rolls-Royce Silver Cloud 1961.
E não para por aí. Cada um dos tradicionais radiadores frontais em formato de pórtico grego é produzido por um único artesão, que o fabrica sem a utilização de instrumentos modernos. “Depois de pronta e polida, a peça recebe a assinatura do artesão na parte de trás”, afirma Figueiredo. Segundo ele, cada grade de radiador leva um dia inteiro – ou mais – para ser fabricada. Tudo sem pressa, como toda obra de arte deve ser – única.
Tamanho esmero rendeu ainda outro adjetivo aos modelos da marca, tidos como “inquebráveis”. Já na década de 50, a garantia de um Rolls era de 150 mil km – boa parte dos carros modernos nem mesmo chega a essa marca antes de virar sucata. Diz a lenda que a fábrica chegou a colocar no manual do proprietário que o completo conjunto de ferramentas disponível no porta-malas nunca deveria ser usado... pois um Rolls-Royce jamais quebra. Afinal, boa arte não enguiça.