Amazônia urgente
No TEDx Amazônia, Alê Youssef teve a sensação de que na floresta estão todas as respostas
Participei do TEDx Amazônia. Assisti às palestras e fui um dos debatedores em uma roda sobre criatividade. Foi uma oportunidade de incluir no debate sobre sustentabilidade a ideia de que é possível desenvolver a economia através do potencial criativo do nosso povo. A economia criativa tem um impacto muito interessante, que precisa ser mapeado. Precisamos descobrir como e quanto a arte, a moda, a música, a arquitetura, o design e todas as expressões da criatividade podem contribuir para o desenvolvimento sustentável que tanto buscamos.
Um encontro como o TEDx é muito importante. Além de possibilitar debates inovadores, é uma ótima oportunidade de juntar os núcleos vivos da sociedade para que interajam e troquem experiências visando buscar uma condição de desenvolvimento para tantos projetos interessantes sobre sustentabilidade que existem espalhados pelo país.
É também fundamental – e este talvez seja o aspecto mais relevante – para buscar a consciência coletiva da necessidade de pressionar o poder público e envolver politicamente todas essas experiências, fomentando a participação na política do país. Ficou claro em algumas palestras que, sem a política institucional e sem a força de atuação incisiva do governo em relação à sustentabilidade e à preservação da floresta, corremos o risco de ficar apenas com experiências pontuais maravilhosas, mas que no todo acabam não repercutindo e surtindo o efeito desejado. O problema é gigante.
Essa foi a mensagem subliminar que captei no evento. Em meio a momentos sensacionais e lúdicos como a fala do seríssimo palhaço Magnólio, da ONG Saúde e Alegria, a genial performance de André Abujamra, as lindas fotografias do paraense Alexandre Cerqueira e a dança emocionante de Antonio Nóbrega, surgiam colocações que lembravam que ainda faltava muito para os objetivos serem atingidos. Nessa linha, ressalto a fala de Rubens Gomes sobre a experiência da Oficina Escola Lutheria da Amazônia e a do climatologista Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, que discorreu sobre a relação da floresta e a atmosfera.
Manifesto
Entre os estrangeiros, o destaque foi o interessante manifesto The Politics of Happiness, apresentado pelo coletivo filosófico Demos Helsinki, que prega a busca por um ritmo menos frenético de vida, a criação de uma nova cultura de bem-estar e o investimento em relações humanas mais profundas como formas de gerar a felicidade de um modo possível e justo. O manifesto visa pressionar o poder constituído para mudar o enfoque das políticas públicas, considerando que a felicidade não é apenas um objetivo de valor intrínseco, mas também o que todos genuinamente desejam e por isso deve ser a finalidade da política.
Fiquei muito contente por poder viver a incrível experiência de debater nosso futuro no meio da selva. Ir à Amazônia deveria ser obrigatório para todos os brasileiros. Sua biodiversidade, seu potencial e suas histórias deveriam fazer parte dos currículos escolares. Impossível não carregar a sensação de que na floresta estão todas as respostas para o nosso futuro. Depois de viver a experiência amazônica, o tema sustentabilidade sai da condição de ideia ou hipótese e se transforma em obrigação moral e crença absoluta.
É urgente e necessário unificar os diversos núcleos vivos da sociedade em torno da disputa política de modelo de desenvolvimento que queremos, para avançarmos na luta pela efetiva preservação da nossa maior maravilha. Sem desculpas e sem paliativos.
* Alê Youssef, 35, é sócio do Studio SP e do Comitê e um dos fundadores do site Overmundo. Seu e-mail é ayoussef@trip.com.br. Seu Twitter é @aleyoussef