Alongar pra quê?

Sabe aquele alongamento que você faz, religiosamente, antes de começar um treino? Não serve pra nada... ou pelo menos não serve para evitar lesões ou melhorar a performance naquele exato momento. Entenda esse imbróglio

De 10 em 10 minutinhos, um tempo enorme pode ser “jogado fora”. É só calcular as vezes em que, antes de começar seus exercícios, a humanidade acha por bem alongar seus músculos. “Não tem nenhum estudo que comprove qualquer benefício de alongamentos antes de uma atividade física que exige força ou resistência. Pelo contrário...”, garante Irineu Loturco, diretor técnico esportivo do Pão de Açúcar e professor de educação física. “Os dados mostram que pode prejudicar um pouco a performance e o rendimento.

Em poucas palavras Irineu implode o que seria um colossal senso comum do fitness: a ideia de que se esticar antes de qualquer treino é regra fundamental para evitar lesões, aquecer o corpo e se preparar para a canseira a seguir. Balela, diz ele. E invoca estudos para concluir que alongar por alguns minutos não muda em nada a ocorrência de lesões. E, de quebra, reduz a força e resistência do atleta imediatamente após o alongamento. Ainda assim, poucos médicos, fisioterapeutas e professores de academia são capazes de repetir isso por aí. Pela linha de pensamento de Loturco, de duas, uma: ou não sabem dos tais estudos ou preferem não brigar contra ideia tão sólida. Seja por ignorância ou pela segurança que aderir ao que o senso comum transmite, o mal-entendido se alonga.

Calma lá
O fisioterapeuta e acupunturista João Roberto Dantas, contudo, faz questão de aprofundar o assunto: “Não se pode afirmar por aí que alongamento não adianta. Flexibilidade é tão importante quanto a força para a saúde dos músculos e das articulações. Mas é fato que o alongamento de 10 min, levinho, tradicionalmente feito por aí, não produz o efeito que se espera”.

O alongamento chamado agudo, momentâneo, aquela dobradinha de perna, aquela esticada de braço de 5 min antes de uma atividade física, acaba por cansar ou deixar o músculo um pouco menos apto às desejadas contrações a seguir. Para um amador, a diferença não será sentida. Mas se um corredor de 100 m rasos, logo antes da largada, esticar as pernas, como mandam as placas das academias, certamente perderá a corrida para atletas mais bem informados. “A perda de força ou velocidade nesses casos pode ser de até 8%. A diferença entre o último e o primeiro colocado de provas rápidas”, sentencia Irineu, que logo se explica...

“Entenda isso: alongamento é bom para qualquer um. Mas para alongar o certo é fazer uma aula, um treino de alongamento que produza um efeito crônico, duradouro.” Permanecem mais recomendáveis do que nunca treinos de ioga, Pilates, alongamento de solo e corre a lista. Todos bons, saudáveis e fundamentais na construção de um físico equilibrado. O que não funciona, que fique claro, é o alongamento como aquecimento.

Então o caso é cair direto no treino, sem prefácio? Não! Aquecimento é bom e importante antes de pegar mais pesado. Mas para isso a boa e velha esteira, ou uma bicicleta, por 10 minutinhos ou menos já cumpre o papel. O que fazer, então, para se prevenir de lesões? “Pegar leve”, simplifica Irineu. “A coisa que mais vai machucar o aluno em treinos é o abuso, o excesso.”