Alguma Poesia

Mas o que importa o que sinto Se não posso reter para a vida inteira?

por Luiz Alberto Mendes em

Alguma Poesia 1) É sempre preciso transformar E transformar o que me nós Já transformamos. E não pode haver margens ou fronteiras Porque somos ruptura, transgressão Já que pensar nos torna parte da paisagem Solúvel no ar, compositores da história. Então, enquanto o vento parece dormir Lá no fim da rua E a vida fica sossegada e pura Como a noite alta e estrelinhas brilhantes Que coagulam a fluidez do tempo Dinamizo atuações. ****** 2) Vivo tudo a ultrapassar Que nem percebo que estou passando Aqui, sem me olhar Perdido de mim Sem por mim me dar. ****** 3) Viajar outros sentidos que não os nossos Outras vidas, outros clarões Alastrando, expandindo Enquanto o que somos Já não somos mais apenas Nossa vida é outra Para além da tristeza de não sermos Muitos. ****** 4) Respiro todo ar em torno E pergunto-me onde estou Que já não consigo mais estar somente em mim? Em quantos corações pousam Meus carinhos e meus rancores Que não estou? ****** 5) Na umidade vaga da neblina Resta-me estudar a frio o coração E entender porque desse laço de relações vivas A me unir a todas as pessoas Mas o que importa o que sinto Se não posso reter para a vida inteira? A voz brusca do vento invade meus ouvidos E perguntas explodem como veias que ardem De vidas rasgadas. ****** 6) Nessas horas tão extremas As últimas antes daquelas Que não sabemos se virão Implacáveis horas de insônia noturna Em que me viro pra lá e pra cá A britar o vidro frágil De minha sanidade. ****** 7) Possuo-me possuído pelo meu gosto Porque amava e não sabia que não era suficiente Que amar exige mais, sempre mais A alma aos gritos, veias saltadas e sangue quente Devorando da vida todo significado. ****** 8) Reter é destruir Ganhamos o dia, a noite Além do dia seguinte E devíamos dar como as árvores Para quem dar Faz parte de continuar vivendo. ****** 9) Quando o solado de meu tênis Toca o chão E distribui meu peso sobre A planta de meus pés Sinto alívio profundo. Nada melhor que andar Para pensar. Luiz Mendes 25/08/2009.

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