Acender lampiões

por Luiz Alberto Mendes em

À  Mercê

 

Estamos à mercê de nós mesmos. Óbvio, não é mesmo? Seria de estranhar se esse não fosse o caso. Um prisioneiro sem muralhas ou grades, é um escravo. Um escravo que não careça ser torturado para sê-lo, é um títere. E o que é um títere? Marionete, boneco de pano movido por cordéis. E esses cordéis, por acaso seriam o dinheiro, a propaganda, ou mais precisamente o marketing? Depois das descobertas de Pavlov, marketing e autoajuda buscam formatar a mentalidade humana.

O que é um títere na prática social? Alguém cuja vontade não é levada em consideração. Pergunto se a nossa vontade tem sido observada e devidamente considerada. Somos nós que determinamos o que fazemos ou estamos à mercê de decisões alheias? Elegemos nossos representantes, mas é possível que eles realmente nos representem e cumpram com o que prometeram? 

E o tempo, os horários a nos prenderem em suas malhas de aço? Dormimos mais tarde que precisamos e somos obrigados a acordar mais cedo que queremos.  Vivemos mortos de sono. Embora, paradoxalmente, sofrendo de insônia. O tempo é relativo a muita coisa, mas principalmente ao modo de vida e cultura de cada pessoa, de cada sociedade e também de cada espécie.

Os zoólogos afirmam que diferentes espécies de animais percebem a passagem do tempo de maneiras diferentes. Até onde sei, os programas televisivos passam cerca de sete quadros por minuto. Parece que essa velocidade é perfeita para o entendimento humano. Mas veja: para um desses pássaros caçadores de insetos, como o sabiá, deve parecer totalmente desarticulado. Seu sistema nervoso funciona de modo a acompanhar vôos muito mais rápidos dos insetos que caça para viver.

Acho que o problema deve estar no fato de que ordenamos as coisas que percebemos no mundo do modo como sabemos. E com certeza, deve haver muitos outros muitos modos alternativos. Aprendi vivenciando que deixamos de ter chances de encontrar unicamente quando deixamos de procurar. Por enquanto vamos seguindo, acendendo lampiões para morrermos no escuro.

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Luiz Mendes

13/11/2012.

 

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