A vitória do sacrifício

por Luiz Alberto Mendes em

 

O Leitor

 

Meu filho veio me convidar. Percebi então que além dele, dois amigos estariam na mesma comemoração. Diego e Daniele já haviam me convidado.

Para Renato, com 17 anos, seria a consequência de 11 anos de escola ininterruptos.

Dany, aos 25 anos, mãe duas vezes, havia voltado à escola para concluir o Ensino Médio. Esforçava-se muito. Levantava 4:00 horas para chegar ao trabalho no horário. Voltava às 16:00 horas, quebrada. Tinha que cuidar da casa, tomar banho e cuidar das duas filhas pequenas. Às 18:00 abria e às 22:30 horas fechava os portões da escola. Dormia 4 a 5 horas por noite. Sacrificava-se. Desabafou comigo inúmeras vezes. Não aguentava mais. Quis desistir muitas vezes, mas sempre voltava à escola. Eu dizia que tinha que ser uma vez de cada vez. Com imensa dificuldade e o apoio de amigos, ela chegou onde queria.

Diego havia saído da prisão começo do ano passado. 24 anos e 3 anos de cadeia cumpridos. Chegou disposto. Matriculou-se na escola e foi atrás de trabalho. Nossa amizade é anterior à sua prisão. Podia ajudá-lo a encontrar um trabalho? Havia feito curso de garçom na prisão. Já era algo. Lembrei o amigo Leonel, proprietário de restaurantes no bairro da Bela Vista. Telefonei e expliquei. Generoso, pediu que eu levasse o rapaz.

Dia seguinte lá estávamos no “Generale II”. Muito bem recebidos, fomos convidados a almoçar (o Bife a Parmegiana deles é uma delícia!). Apresentado, o jovem amigo desenrolou sua história real. Leonel foi fantástico. Já nos levou para um tour no restaurante e foi falando do trabalho do garçom (é quase arte). Valorizava; demorava anos para se formar um bom garçom. Ao fim, após o laudo almoço, saímos; Diogo já empregado.

Acompanhei os três. Meu filho começou a trabalhar na Trip no meio do ano. Aos poucos conseguiu equilibrar trabalho/escola. As notas abaixaram, mas até o fim do ano se recuperou e concluiu o curso com tranquilidade. Dany, com dificuldades, lutando demais para fazer trabalhos escolares nas poucas folgas que tinha. Muitas vezes aqui em meu PC e com alguma orientação. Diego em três meses aprendeu a ser garçom. Ganha muito mais fazendo bicos em restaurantes aqui em Embú das Artes que na Bela Vista.

E lá estava eu vendo o sorriso de prazer estampado no rosto de meu filho. Ele estava lindo todo de preto. Dany me convidou para ser seu padrinho e eu, cheio de orgulho, a conduzi ao palco. Estávamos todos emocionados e felizes. Diego fez questão de tirar fotos comigo. Ele me agradecia sei lá do que e sorria para sua mãe, toda orgulhosa, vestida a rigor, ao lado do filho.

Sentado e olhando-os, algo em mim exultou. Eu havia feito minha parte com os três. As lágrimas queimaram os olhos e escorreram quentes pelo rosto. Eu os amava pela luta e esforço que desenvolveram. Eles me provavam, sem sombra de dúvidas, que era real o caminho que haviam escolhido.

Hoje Diego e Dany vieram aqui em casa. Estão de férias. Conversamos bastante e de repente Diego disse que queria comprar o meu ultimo livro “Cela-forte”. Olhei bem, talvez apenas quisesse me compensar. Mas não, queria ler mesmo. Havia se tornado um leitor no processo de trabalho e escola. Estava curioso e queria autógrafo. Haviam vindo em casa para comprar o livro e me comunicar que iam prosseguir nos estudos. Estavam procurando faculdade barata; bolsa de estudo parcial; crédito universitário; a correria normal do universitário pobre do país. Minha alma se abriu num imenso sorriso. Como era bom ouvir aquilo, como é bom plantar e colher...

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Luiz Mendes

20/01/2013.

 

 

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