A violência dos jogos eletrônicos

por Luiz Alberto Mendes em

                         CAFÉ-COM-LEITE

 

_”Ele é pequeno!” Diz meu filho Jorlan.

_”É café-com-leite”, completa William, seu coleguinha de classe.

Leonardo e seu irmãozinho concordam. O menor porque quer brincar de verdade, como seu irmão. Café-com-leite significa que ele brinca, mas não fica com ele e nem vale com ele. Leo esta esperando a oportunidade de dar umas porradas no irmão menor, sem ter que enfrentar a mãe depois. O pirralho é muito “folgado” e se aproveita da presença da mãe para espicaçá-lo.

E lá saem eles no tiro, no grito e na porrada. São bandidos, afirmam. Estão em guerra com a polícia e a facção rival, como é lá no fundo da favela e na novela da tv. Caras de mau, armados de canos entortados, esguicho de mangueira e paus imitando facas, lá vão eles com seus fuzis, metralhadoras, escopetas e pistolas automáticas. Pulam por sobre obstáculos imaginários a disparar uns contra os outros. Parece real, os olhos deles ficam até vermelhos. Eu me assustava demais com isso. Dava medo do que podia virar no futuro.

Foi com dificuldades que consegui comprar um Xbox para eles. Queria abortar essas brincadeiras preocupantes. Não sabia, mas os jogos extrapolam. São extremamente mais violentos. Coisa de louco. Os personagens atiram até na sombra, estraçalham, separam seus adversários por partes!

Depois de ver tais jogos percebi que a brincadeira entre eles é até lúdica. Por exemplo, com eles ninguém morre para sempre. Sempre pode ressurgir do nada e oferecer mais desafios, embora escoriações e hematomas possíveis.

Ele só tem 11 anos e já sabe tudo sobre fuzis e metralhadoras. O irmão mais velho conhece muito mais ainda. Nem imagino de onde tiram essas informações (será Internet?).  Mas já ultrapassou essa fase. Esta estudando webdesign. Tem três e-mails e endereço em todos os sites de relacionamentos. Um montão de amigos registrados. Passa a vida conversando pelo teclado.

As configurações de meu micro (meu em termos, pois é compartilhado) é tudo por conta dele. Instalar, configurar e mexer em qualquer aparelho elétrico ou eletrônico em casa é tarefa que ele abraça com satisfação. Fez 16 anos em maio.

Jorlan também ultrapassará. Parece que todos os meninos têm essa fase. No meu tempo era bang bang. Uma pena que demorei tanto mais tempo que eles para realizar essa maturidade.

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Luiz Mendes

31/05/2007.

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