A vida tem significados?
SIGNIFICADOS
Tenho negociado com o tempo em busca de espaços. Aprendo paciência ativa. Ferramenta de atuação na lida com o tempo. Aquela que espera em ação permanente. É assim que tenho garantido os que dependem de mim. Às vezes o horizonte se encolhe e o amanhã parece que colapsa. Quando tudo é assim absurdamente sério, brinco malabares. Jogo ao acaso da gravidade. Emoções, circunstâncias, tabletes de conhecimentos, poesia, blues, bossa nova e rock and roll. Sempre alguém gosta e colho um novo sorriso. É como dança. Despojamento e entrega ao ritmo para fluir em comunhão.
E assim vivo a reconstruir o ideal que fermenta meus sonhos. Uma pena que escrever não seja considerado trabalho. Isso me deixa com saudades das salas de aulas, mas do presídio. Preso é o melhor aluno do mundo, na minha experiência pessoal. Estou montando projeto de Oficinas de Leitura e Texto em três Penitenciárias Femininas. Vou levar livros, do mesmo jeito que as pessoas que me salvaram me trouxeram. Existem pessoas preocupadas em resgatar outras pessoas. Seus olhos são doces como girassóis. Não os invejo. Eu os amo e busco seguir o exemplo.
Já estive em várias penitenciárias com minhas Oficinas. Este ano realizei duas dessas Oficinas dentro da Faculdade de Literatura da Universidade Federal da Bahia. Estou com o diploma aqui, valeu até créditos para os estudantes que participaram. Participei de seminários e simpósios sobre leitura e escrita. Mas somente a prática de ensinar é que faz com que se aprenda de fato. Paulo Freire nos chama de “ensinantes”; seres que aprendem ensinando.
Ler não é mais mera decifração de códigos e símbolos. Vou levar às meninas um outro tipo de leitura. O que é prisão; o que é condenação; no que consiste cumprir pena; qual o sentido das leis; e as conseqüências de tal leitura. Ler como lemos o olhar. Invasivos e penetrantes, buscando entender o interior de tudo com a razão, mas com sentimento também.
Levarei leitura para os sonhos, para a vida e para sempre. Quero apoiar para que escrevam suas vidas como autores dela. Quero demonstrar a leveza, o prazer de escrever para que escrevam como cantam no chuveiro, distraidamente. Assim, do mesmo jeito que bate o coração. A era do conhecimento consumado acabou. Agora tudo é transitório e relativo. Tudo esta, não estando e nos convoca a buscar dentro e fora de nós.
Quero diversificar para sempre atuar. Passei esses sete anos aqui fora lutando para ser levado a sério. Hoje há pessoas, empresas e Institutos que confiam em mim. Este é meu significado, meu valor: a confiança e o respeito que conquistei. E agora, depois dos ensaios e primeiros passos, enfim vou constituir e conquistar novos espaços. Este é o meu trabalho: encher de significados meu sonho de ter uma vida satisfatória como escritor.
Luiz Mendes
14/12/2010.