A Tempestade da Tarde em São Paulo

por Luiz Alberto Mendes em

São Paulo Sitiado

Ano passado estava com duas palestras contratadas para janeiro e ambas foram canceladas. As chuvas violentas paralisaram a cidade e houve muitas mortes. As pessoas estavam inseguras. Saiam cedo para o trabalho receosas com a chuva da tarde. A moda até mudou. Todos vestidos em plástico impermeável. O indefectível guarda-chuva do lado que, alias, não guardava nada na hora do temporal. Todos viravam do avesso ou eram levados pela ventania.

Hoje me dei conta de que tudo esta se repetindo. Tenho as mesmas duas palestras; uma no Espaço Vida Holística, dia 18 no Brooklin; e outra na Defensoria Pública, dia 25 em São Bernardo do Campo. Serão suspensas como no ano anterior? Ou vai cair o mundo durante a palestra e não vai dar para voltar para casa?

O receio dos paulistanos passou por toda escala de intensidade. Receio, medo, terror e finalmente pavor que levou ao pânico. “É uma neurose, uma overdose...” como diria Rita Lee. Quem tem carro tem medo de sair com ele. Claro que pelo carro que não é nada fácil de pagar. Mas porque, além de perdê-lo, sempre existe o risco de ser levado de embrulho dentro dele pela enchente.

A polícia já esta aconselhando em of: se estiver próximo dos 125 pontos de alagamento crônicos detectados no mapa da cidade e começar a chover forte, pare e opte por subir em cima do carro. Mesmo que fique molhado como um pinto, chuva não mata ninguém. No máximo causa um resfriado forte. Mas ai pode virar gripe, pneumonia...

 Quem sai de casa para pegar ônibus só tem certeza de uma coisa: não sabe a que horas voltará. A maioria das pessoas só esta saindo de casa por extrema obrigação. Quase tudo esta sendo adiado. Algo esta apavorando os paulistanos mais que os assaltos, roubos e a polícia. A tempestade (não mais chuva) da tarde.

Quando começa a chover só se vê o povo correndo nas calçadas e ruas. Aquele mar movente de guarda-chuvas. Todos ligando, de celular nas mãos, preocupados. Será que a família esta protegida? Os meninos estão na escola, mas e na hora da saída, não vai estar tudo alagado? Quem tem árvore perto de casa já imagina ela caindo em cima de casa com o povo todo dentro. Neurose pura.

Quilômetros e mais quilômetros de congestionamento. As ruas e as casas inundadas, os rios transbordando e os morros vindos abaixo com seus respectivos moradores. O pessoal na rua com medo de ser levado pela enxurrada. Não há lugares seguros e qualquer um de nós pode virar desabrigado de uma hora para a outra.

Depois dos primeiros momentos já não se vê ninguém. As ruas ficam para os pingos pesados que explodem no asfalto e nas calçadas. Ficamos então de olho no jornal à espera das tragédias. Quase todos conhecemos pessoas em situação de risco. Ontem 14 pessoas morreram por conta da chuva. A maioria soterrada. Dá para imaginar água e terra invadindo goela abaixo... Deve ser uma morte horrível!

Fica aqui meus pesares às famílias dessas pessoas mortas na chuva. Deve ser duro ter um ente querido morto dessa maneira.


Luiz Mendes
12/01/2011.

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