A Impossível Democracia Religiosa
Terreiro de Jesus
Passei uma semana em Salvador, Bahia, fazendo minha Oficina de Leitura e Texto com cerca de 120 jovens. O projeto Oi Kabum que me contratara, fica na Praça Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador.
Em dado momento sai para tomar ar, depois de horas mergulhado no trabalho, e fiquei olhando a praça, curioso. Estranhava o nome. Então, fazendo uma leitura percebi que havia três enormes e antigas igrejas na praça, tomando-a quase toda. Somente um dos quatro lados da praça não é igreja.
Na rua saindo da esquina em que fica o prédio da Kabum, fazendo um preâmbulo, fica aquela igreja que é toda recamada de placas de ouro. A idéia de uma igreja assim é difícil de acreditar. E depois passa uma idéia de ostentação nada compatível com os dias atuais. Estive lá duas vezes. É absolutamente real. São arabescos e enfeites de ouro amarelo/avermelhado que recobrem as paredes da igreja de alto a baixo. E não são de mau gosto. Não fica pesado, alias dá sempre idéia de asas de anjos gordinhos. É bonito e estético. Ao fundo, na cúpula, então é uma apoteose iluminada. Belas figuras da igreja, ornamentos delicados, santuário, tudo em ouro puro. É a igreja mais bonita que já vi em toda minha vida. Magnético, aquilo atrai a alma da gente; é arte pura, amor elevado. Não dá vontade de sair mais dali. Cobre e aquece como um manto.
Com tantas igrejas pensei fosse natural que a praça tivesse o nome de Terreiro de Jesus. E como sei de outros Terreiros em Salvador, procurei saber o nome de alguns: Terreiro da Casa Branca; Terreiro do Gantois; Terreiro do Cobre; Terreiro do Bate Folha; Terreiro Ilê Pô Afonjá; e outros. Fiquei admirado pensando que em Salvador havia democracia até nos Terreiros. Havia tantos e o do de Jesus era apenas um deles. A idéia de diversidade cultural/religiosa que ouvi dizer de Salvador já me encantava. Agora estava contente em constatar. Aqui em São Paulo o espaço das igrejas de Jesus é majoritário. Ninguém faz sombra com tantas igrejas, tendas, templos e santuários. E quem se atrever, como na “Santa Inquisição” da idade média, é acusado de bruxaria, feitiçaria e de estar cultivando o demônio. Ainda bem eles não podem mais queimar ninguém vivo. Senão...
Mas logo a professora Rita quebrou meu encanto com a dura realidade: a Praça é chamada de Terreiro de Jesus porque era onde ficava o antigo terreiro dos padres jesuítas. Quer dizer; terreiro no sentido de quintal. Tudo bem, mas a magia existe, não há como negar. É a Bahia de todos os santos.
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Luiz Mendes
11/10/2011.