A importância do Livro

por Luiz Alberto Mendes em

Livro

 

Há algum tempo estou afastado da leitura de romances, das biografias e da poesia, de todo encanto que existe na literatura. Sou um escritor, pelo menos vivo do que escrevo e meu trabalho exige pesquisa, estudos e aprofundamento. Então, sem perceber fui radicalizando. Há tempos estou lendo apenas livros de conteúdo filosófico, psicológico, social e o jornal do dia. Tento um conhecimento mais profundo; técnico, por assim dizer, e estar antenado nas atualidades. Mas isso cansa, chega a esgotar; é muito esforço continuado para entender complexidades que agora, nem sei para que servem. Minha vida ficou cinza, meio que sem graça, muita rotina e eu fui ficando de saco cheio sem saber porque e nem do que.

Tenho algumas paixões e blues é uma das mais intensas. Tenho muitos CDs e DVDs dos artistas que fazem blues. Particularmente daqueles que mais gosto, como Muddy Waters, Buddy Guy, Celso Boy Blues, Etta James, Koko Tailor, Elmore James e outros. Mas como previa uma amigo da Alemanha, com o tempo eu quis mais que blues. Quis blues e muito mais, para ser mais exato. E, sem dúvidas, mais que blues, só jazz. E assim fui escutando, aprendendo e me apaixonando pelo jazz também. Sempre gostei muito de cantoras, amo-as! E no jazz há cantoras acima da média, as "Divas". Ella Fitzgerald, Sara Vaugham, Bessie Smith, muitas outras e a maior, a melhor de todas; Billie Holiday. Estou escutando-a nesse momento, canta "God bless The Child" e acabou de cantar "Lover man". É uma das poucas alegrias de minha vida escutá-la, tenho vários CDs, sou seu fã incondicional. A delicadeza, o frescor, a tessitura e a colocação de sua voz chega a me arrepiar, é lindo!

Pois é, esses dias minha sobrinha, sabendo de meus gostos e prazeres, me presenteou com um livro, desses pocket, que contem a biografia de Billie. Grandioso presente, para quem sou. Já havia lido muita coisa sobre ela, mas nada assim com começo, meio e fim. Lera apenas trechos de sua vida. A biógrafa, Sylvia Fol, parece apaixonada pela pessoa da história que relata. É incrível, mas me fez chorar logo nas primeiras páginas e passei o começo do livro todo com os olhos marejados. A vida da "Lady Day" é dura, duríssima! E o seu amor ao canto, à sua excepcional voz e arte também é uma espécie de dor. Aos 11 anos, a mãe pega o vizinho estuprando-a; aos 13 anos a mãe, prostituta por sua vez, a vende a uma cafetina para ser prostituta; nesse mesmo ano ela é condenada a um ano de prisão por prostituição; e, aos 15 anos canta à frente de uma orquestra enorme com cerca de 50 grandes músicos, como solista. Depois é uma sucessão de sucessos e até fracassos intermináveis. Tórridos amores, viagens, orquestras, disputas com outras cantoras, bebida e drogas. Ainda estou bem no meio do livro. Fico economizando-o, enquanto vou ouvindo-a também.

E ai eu fui percebendo o quanto esse tipo de leitura é fundamental para a sanidade e qualidade de minha vida. Minha vida não é alegre e muito menos feliz, mas é consistente, tem substância e objetivos claros. E os romances, as biografias, os contos, a poesia e a invenção são parte significativa dessa consistência. Sem eles a vida perde o colorido, a graça e o prazer de conhecer. Fiquei muito satisfeito em constatar isso porque agora sei o que estava faltando. E agora sei também com que prazer vou preencher essa lacuna! Pensava fosse algo muito mais complexo, algo que eu não tivesse saco e nem coragem para encarar. Suave na nave.

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Luiz Mendes

25/09/2013.

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