As balas estão tão perdidas que jamais podem ser examinadas. Vivem disparadas no ar e ninguém sabe de quem são. Erram constantemente, quando não se perdem em algum corpo por ai…
Aquilo foi seviciamento. E feito por um bando de coxinhas motorizados. Quando olhei a foto daquele jovem ali manietado pelo pescoço, tive um choque. Voltou-me à mente as fotos daqueles negros enforcados no Sul dos States e a música dolorida de Billy Holiday sobre os frutos podres das árvores. De repente estava novamente assistindo a volta da escravidão, com jovens negros com a “canga” no pescoço e amarrados ao pelourinho. E ainda uma reporter, âncora de um famoso jornal, se presta a defender aqueles “feitores” e “capitães de mato”, como se houvesse alguma razão possível para tão bárbaro cometimento. Senti vergonha de minha pele e cultura branca.
Logo em seguida, no facebook, acompanho uma cena que alguém postou e eu abri de curioso. Um rapaz negro estava deitado ao chão, rodeado de pessoas. Estava todo ensanguentado, falando não sei o que (não havia audio) e gospindo sangue. De repente foi engolfando, o sangue saiu pela boca e pelo nariz como de um chafariz. Cobriu seu rosto de vermelho, o jovem parou de se mover e logo em seguida o sangue em seu rosto ficou preto. Havia uma multidão assistindo aquele jovem morrendo, parecia ação de justiceiro e as pessoas estavam gostando daquilo. Alguém disse que o rapaz havia morrido.
Um jovem, também negro, estava sendo mantido sentado ao chão por pessoas ao redor dele. De repente surge em cena uma moto com dois ocupantes. Um deles desce, saca de uma arma e dispara à queima-roupa, por 3 vezes na cabeça do jovem sentado. O Jovem é jogado para trás pelo impacto das balas. O matador volta à garupa da moto como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, e a moto vai saindo. A reportagem informava que o jagunço urbano é conhecido valentão, tipo xerife da “quebrada”, com vários outros justiçamentos.
Um pouco antes, estava dando uma olhada na minha pagina no facebook, quando vi a filmagem de três corpos com centenas de furos e buracos e suas cabeças separadas do corpo, enfileiradas no chão ao lado. Numa das prisões do complexo penitenciário de Pedrinhas estava acontecendo uma rebelião onde muitos presos haviam sido mortos por outros presos. Segundo o jornal (nada confiável), seria uma guerra entre facções pelo domínio da prisão. Ao longo de quase um mês, a bruxa esteve solta naquele complexo penitenciário. Dezenas de presos foram mortos entre eles mesmos e sabe-se lá a razão, além daquelas já conhecidas (super-lotação, maus tratos, insalubridade e vida de cão).
Depois vem a filmagem daquele homem com a câmara na mão e sua cabeça sob colorida explosão de fogo. É uma das cenas mais chocantes que já assisti. Fiquei imaginando a imensidão da dor que ele sentia. É comovente como ele demonstra esperança e profissionalismo ao proteger a câmara do fogo em sua cabeça. Depois repetiram tanto a cena que perdeu a força de seu impacto, vulgarizando-a.
A repetição insistente dessas cenas dantescas apenas desensibiliza, como se aquilo acontecesse todos os dias. Torna a desgraça e a violência atitudes comuns do cotidiano. Os programas televisivos e de rádio que exibem a miséria humana retro-alimentam a violência ao expo-la excessivamente. Cerca de 50 mil brasileiros são assassinados por ano no país. E não se vai consertar isso aqui e agora, por decreto ou por lei. A violência não é produto dos outros, não são os outros que nos trazem a violência. Ela existe em nós todos, mas não é natural de nós, antes, é produto de nossa cultura. E em sendo produto nosso, com certeza sabemos o antiódo para esse veneno: Educação. O ensino sobre a importância da vida humana deve bastar no tempo.
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