A dor por Luiz Alberto Mendes em 24.02.2014 Minha Mãe, a DorA dor muitas vezes me manteve vivo. Em seuparadoxismo, exigia de mim todo empenho parame controlar. Cresci, amadureci e me tornei homema partir da luta imensa que travava para não medesesperar e morrer em alguma coisa. Sim porque nãoé só da vida que se morre. Podemos nos deixar morrernos sentimentos e ai a origem de algumas psicopatias.Da razão, e são muitos, não sei em que percentagem,homens aprisionados que enlouquecem na prisão; eumesmo vi vários amigos “chaparem”. Fomos presos emquatro “moleques”, eu era o mais velho e tinha apenas19 anos. Um não aguentou a “marimba” e se enforcounos primeiros anos. Dois conseguiram sair, mas ambosdesequilibrados. Um deles virou mendigo e sumiu.O outro ficou meio bobo; de vez em quando some ea família vai encontrá-los junto com os “nóias”, sujo,jogado, aos pedaços.Talvez a dor nos aproxime dos outros. Passei arespeitar o outro a partir do sofrimento e das pressõesinsuportáveis que sofri. A minha dor era a mesmaque doia em todas outras pessoas. Enquanto meuscompanheiros se perdiam na revolta, no desespero,no ódio, na vingança e se desumanisavam, eu, quantomais sofria, mais humano me tornava. Sentia o quantodevia doer para os outros a partir do quanto me doia.Já me perguntei porque e a única resposta plausívelsão os livros, porque eu não era melhor que eles. Atémuito pelo contrário. Sou um leitor compulsivo há maisde 40 anos e só assim explico. Os livros preencherammeu imaginário de pessoas, vidas e entendimentos.Fizeram, principalmente que eu sentisse, pesasse epensasse.Mas a dor também nos individualiza porque sofrerse sofre sozinho, dentro de si e ninguém pode nosajudar ou dividir. Quando muito podem acompanhar, emesmo assim, distantemente. Ninguém nos ensinou asofrer; aprendemos a lidar com a dor por nossa contae risco. Cada um à sua moda. Não importa como, épreciso suportar. Odeio a dor e tentei fugir o quantopude, mas sem jamais obter sucesso. A dor tem sidominha amiga/inimiga, companheira de muitas horas desolidão e infelicidade.A tristeza é horrível. Mas a pessoa triste me parecebela, linda em sua resistência ou entrega à dor.Só cresci e me desenvolvi porque ela me tangeu enecessitei escapar da roda de fogo que havia meenvolvido. O tempo ardia, o espaço parecia irreversívele o vento deixava profundas dúvidas. Estamos todosmarcados pelo ferro da incerteza e pelo maçarico dosofrimento e da perda. A dor é como pedra, punhofechado no ar. Um labirinto que a gente só quer fazerdesacontecer. O problema é que quase ninguémaguenta e o medo é gosmento e pegajoso. É um vazioque devora completamente, o insuportável que temosque suportar e limites que temos que ultrapassar.Minha mãe, a dor...“Minha alma é fogo que sofre se não arde...” Stendhal.**Luiz Mendes20/02/2014 Arquivado em: Trip