Vivemos influenciados por conjunções externas. Quase tudo em nós é importado de nossa relação com o outro. Estamos condicionados e divididos por dentro. Quando crianças, vivemos a perguntar. Assim deveríamos seguir pela vida adentro. Mas a coexistência com os outros vive a nos cobrar respostas...
Amadurecidos, nos conformamos com respostas e não mais interrogamos. Acabamos por nos distanciar da possibilidade de nos compreender. Percebemos que estamos perdidos, insatisfeitos e tudo o que sabendo de nós são fragmentos. E precisamos nos conhecer. Saber quem somos, para nos ordenarmos, e seguir nosso caminho.
Ninguém nos compreenderá pôr nós. Vivemos no cárcere de nossas fronteiras. Não somos iguais aos outros. Somos únicos. Somos os donos de nosso jardim, do que plantamos nele, assim como também o jardineiro que cuida. Somos misteriosos, de difícil apreensão. Sofrimentos e alegrias se alternam em nossas existências. Resolutos, enfrentamos o que nos acontece e aprendemos resolvendo os problemas que as novidades nos trazem. Em tudo há ensinamentos, é irrelevante se ao mal ou ao bem, ou ainda a que tempo; somos seres que aprendem.
É de nos deixar de boca aberta, perplexos, diante de nossa capacidade de tirar ensinamento das propostas da vida. Extremamente versáteis, somos mundos completos e acabados em si. Ao tempo que incompletos e inacabados também. Enfim, somos complexos, seres singulares cujo destino é a própria surpresa em manifestação. O tempo é todo nosso tesouro. Aprender a aproveitá-lo e dar-lhe o valor que nos merece é todo o segredo.
Fomos criados de modo a que a outra pessoa nos fosse necessária. Mais que a água, a alimentação e o oxigênio. Somos coexistentes; esta em nosso código genético. Não somos mais um problema a ser solucionado. Somos o culto de um mistério a ser exercido. Não somos apenas uma questão colocada em aberto na vida. Somos a própria vida em questão. Um risco permanente.
A coragem é fundamental para exercer a potência da vontade. No processo ininterrupto de criação de nós mesmos, somos nossos pais e nossos filhos. O parto, a dor, o cuidado e tudo o que nasce de nós, somos nós também. Destinados a um buscar e não encontrar, descobrimos que já não somos o que buscamos; somos a própria busca. Um mundo em aberto para todos outros mundos, numa relação de absorver e ser absorvido. Vastos céus e oceanos a serem conquistados. Capazes do inédito, somos criadores do amanhã.
Ao tempo em que somos também perenes casos de problemas psicológicos. Parecemos uns loucos tentando parar o turbilhão que a roda da vida faz rolar. Não temos solução. Não somos coisas que a lógica pode circunscrever. Na verdade, somos eternos vencedores de crises. Embora a capacidade de vencer não resida no caminho do menor esforço. Isso porque o esforço, o movimento de superar, o suor, o ferver de nossos miolos, aglutinam o sentido de nossa vida.
Também somos o duro chão que pisamos no cotidiano. A frustração de querer sempre mais do que conseguimos obter. Somos tão gulosos... Loucos por uma indigestãozinha particular. Somos a contradição de nossos sonhos desfeitos e a realidade que explode em nosso rosto. Maravilhosos como Gandhi, Luther King, Mandela, Madre Tereza de Calcutá. Monstruosos como Hitler, Himmler ou qualquer desses torturadores brasileiros que a Comissão da Verdade esta desmascarando.
Detemos também o poder do amor. Aquele poder extraordinário que faz nossa existência abençoada pôr muitos. Movemos montanhas com nossa fé. Construímos arranha-céus, veículos espaciais ou um super computador. Carl Sagan afirma que o cérebro humano poderia reter informações que preencheriam cerca de vinte milhões de volumes. Possuímos também o sublime poder de esquecer e de perdoar. De vencer todas as dores e sofrimentos porque não foi para sofrer que nascemos. Caminhamos rumo a realização de nossa finalidade. Embora não saibamos ao certo qual seja.
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