A aventura atrás da ilha
Surf, sol e resgate nas ondas da Indonésia
Chegamos a Hollow Trees, ou Lances Right, como também é conhecida a direita mais famosa das Ilhas Mentawai, Indonésia, no meio da tarde.
O barco em que viajávamos, o Komodo Adventure, se aproximou lentamente por trás da arrebentação e nem parecia que tinha onda. O vento deixava o mar batido e só uma molecada local, barulhenta e surfando com pranchas velhas, denunciava a presença das ondas.
O capitão Oliver, responsável pelo melhor barco da empresa pioneira em operar charters para surfistas na região, a Indies Trader, falou para aguardarmos alguns minutos que o vento mudaria e o mar acertaria. Já estávamos no final da nossa trip de 12 dias e não tínhamos dúvida que a previsão vingaria, mais uma vez.
Há pouco estávamos nos divertindo nas longas e tubulares esquerdas de Lances, com ondas de quatro a cinco pés. Nosso grupo, composto por 10 brasileiros, era o maior entre os outros quatro barcos ancorados na baía.
Quando o sol começou a cair em direção aos coqueiros e palmeiras que emolduram a aldeia, conforme a previsão, o vento foi diminuindo, a água ganhando uma textura gelatinosa, as séries ficando mais definidas e a poucas braçadas de onde estávamos ancorados as direitas eram diversão garantida.
Alguns de nós, que não andavam em terra firme há dez dias, resolveram caminhar na praia e conhecer a comunidade, a única que avistamos durante toda a viagem. Outros foram direto para a água. Era nosso penúltimo dia e, apesar de estarmos todos satisfeitos e cansados, o impulso de desfrutar daquela perfeição falou mais alto.
Até anoitecer dividimos o line up com os locais e foi um prazer ver a intimidade e a habilidade dos garotos nas ondas. Há quem ache ruim o fato de o surfe estar mexendo com os hábitos da região, mas a felicidade estava estampada nos rostos deles.
Quando voltamos para o Komodo estranhamos que o atento Madê, assistente do chef, não estivesse nos aguardando com as habituais Bintang geladas e aperitivos. Logo o capitão apareceu para nos consultar sobre um possível resgate que teríamos que fazer.
Pouco depois de sairmos das esquerdas um sul-africano radicado na Austrália bateu com a cabeça no fundo de coral e só sobreviveu porque seu anjo da guarda estava de plantão. James Walter provavelmente já estava desacordado e afogado há alguns minutos quando o enfermeiro californiano Woody Boether mudou de idéia e resolveu voltar para a água. Mal o "ding" começou a levá-lo para o pico ele avistou o corpo envolto por uma mancha de sangue. Precisou usar todo o seu conhecimento de CPR para, três minutos depois, conseguir recuperar o pulso de Walter.
Duas horas depois, ainda em coma, ele foi transferido para o Komodo, o mais veloz, confortável e equipado barco para ir ao porto de Padang onde um jatinho UTI o aguardava para levá-lo a Cingapura. Durante a travessia, que durou 16 horas em função das condições do mar, Walter foi recuperando os sentidos. Agora, com 50 pontos na cabeça, passa bem.
Apesar de todas as facilidades e do conforto que hoje se pode comprar para desfrutar de ondas de classe internacional, surfar nas Mentawai é, e sempre vai ser, uma grande aventura.
NOTAS
WCT - HOBGOOD E IRONS
Há 20 dias os dois mais Shane Dorian e Dane Reynolds estavam no mesmo Komodo Adventure filmando com o diretor Taylor Steel. No último domingo, no Japão, Hobgood ficou com o título da sexta etapa do Mundial, assumiu o segundo lugar no ranking e impediu que o amigo se isolasse na liderança. Kally Slater caiu para terceiro.
BRASILEIRO DE SNOWBOARD
Disputado em Valle Nevado, Chile, o campeonato deste ano teve a presença de vários competidores europeus e norte-americanos em busca de pontos para o Mundial de Bornio2005 e para os Jogos de Inverno de Turim 2006. Os brasileiros campeões foram Mário Zulian (boardercross), Felipe Motta (Big Air), José Jr. (Slalom Paralelo Gigante) e Isabel Clark, que venceu solitária suas provas.