A arte mora no centro
Artistas ocupam um hotel no centro de SP para criar obras multimídia inspiradas na cidade
Com a idéia de colocar artistas brasileiros e estrangeiros em contato com o centro de São Paulo para que ele sirva de ponto de partida de novos projetos artísticos, o Red Bull House of Art começa nessa quarta, dia 11. O Hotel Central, construído em 1918, já foi moradia de barão do café e funcionou como hotel dos anos 20 até 2005, quando foi desativado. Reformado, o prédio no vale do Anhangabaú servirá de base para 10 artistas de sete países pensarem suas propostas de intervenção na capital paulista. São eles os brasileiros Alessandra Cestac, Cláudio Bueno, Rodrigo Garcia Dutra e Regina Parra, o sul-africano Zander Bloom, o japonês Hiraku Suzuki, o alemão El Bocho, a argentina Gabriela Golder, o português Rui Gato e o norte-americano Grant Davis. A primeira exposição serve de apresentação dos participantes, reunindo uma coletânea de trabalhos já realizados por eles.
Diferentemente de outras exposições e mostras, esta espera que as idéias surjam ao longo dos seus 30 dias de duração. O espaço servirá de ateliê, galeria e ponto de encontro com o público e outras pessoas do meio, com worshops, palestras e exposições ao longo da execução das propostas.
Lucas Bambozzi, um dos curadores do evento, conversou com a Trip sobre o que ele e curadora Maria Monteiro esperam conseguir com o projeto.
Qual é a proposta do evento?
Desde o momento em que eu e a Maria Monteiro fomos convidados, a idéia era fazer uma separação entre artistas analógicos e digitais. Eu cuidaria dos ligados às mídias digitais - vídeo, interatividade, instalações, sistemas de comunicação – e a Maria dos mais clássicos. Acabamos eliminando as fronteiras com o objetivo de criar um ambiente propício à criação. Geralmente, exposições já demandam um projeto pronto do artista. É raro no Brasil e no mundo, o artista poder pensar sobre o novo trabalho, inventar partindo de uma experiência nova. A idéia foi proporcionar isso, uma situação onde o artista vai se defrontar com algo para daí fazer seu projeto.
O que os artistas convidados tem em comum?
No texto curatorial brincamos com isso: os artistas não têm nada em comum. Não buscamos encontrar coisas em comum, nem faixa etária, nem mídia. Cada um trabalha numa linha, num tipo de suporte muito diferente do outro; cada um tem uma formação acadêmica diferente, um cultura diferente. Com exceção dos paulistanos, mas que vêm de momentos diferentes no circuito da arte, ambientes e escolas distintos. O pressuposto comum, então, é viabilizar as idéias deles em vários sentidos: materiais, espaços de criação, ajuda ao artista no ambiente da cidade.
"Está longe das nossas intenções revitalizar alguma coisa - como se algo estivesse morto e precisasse ser revivido, mas sim, colocar esses artistas no espaço intenso do centro de São Paulo."
O que podemos esperar do projeto?
A maioria dos artistas, talvez isso seja algo em comum, tem algum trabalho realizado em espaço aberto, público. Eles estão levando esses trabalhos, que estão sendo mostrados na galeria na exposição de abertura do projeto, que serve para apresentar os artistas ao público paulistano e brasileiro. Depois a gente espera que os projetos saiam do interior do ateliês deles, escapem do prédio e ganhem de volta o espaço público. Uma preocupação da curadoria é apontar esses projetos para o espaço público, para que o centro da cidade seja um fator de desafio para eles. O centro é alvo de especulação imobiliária, gentrificação, projetos mirabolantes. Está longe das nossas intenções revitalizar alguma coisa - como se algo estivesse morto e precisasse ser revivido, mas sim, colocar esses artistas no espaço intenso do centro de São Paulo.
O projeto prevê que os artistas vão visitar lugares em São Paulo escolhidos pelos curadores. Que tipo de locais eles irão visitar?
Exposições que a gente julga relevantes na cidade. Por exemplo, a Regina Parra é uma artista convidada. Ela estava com trabalhos expostos na Galeria Leme. Nós os levamos lá no final de semana. Tem a exposição da Pipilotti Rist no MIS [Museu da Imagem e do Som]; poucos desses artistas tiveram a oportunidade de vê-la numa exposição tão completa. Vamos levá-los a Inhotim [em Minas Gerais]. Também vamos levá-los a espaços não consagrados como a Casa da Chiclete e a Choque Cultural. Vamos a galerias estabelecidas e a espaços alternativos.
Por que a escolha desse prédio específico no Vale da Anhangabaú?
Vários elementos nos interessaram. Vimos vários outros prédios no centro da cidade, mas esse servia por ser um hotel e ter salas que poderiam ser transformadas em ateliês. Ele oferece a possibilidade de transformar áreas comuns em espaços de convívio: tem área de internet, sala de jantar, sala de estar, sala de projeção de vídeo e três galerias.
Vai lá: Red Bull House of Art
Hotel Central
Av. São João, 288, Centro, São Paulo
Primeira exposição: de 11 a 22 de novembro
De terça à sexta das 12h às 18h
Sábados, domingos e feriados das 10h às 18h
Segunda exposição: de 05 a 13 de dezembro
De terça à sexta das 12h às 18h
Sábados, domingos e feriados das 10h às 18h