Terra à vista

Por alguns instantes, os olhares dos motoristas que cruzam um dos viadutos mais movimentados de São Paulo se desviam. A atenção deixa de ser o trânsito carregado de caminhões e pousa numa movimentação intensa de bicicletas. Algumas voam tão alto nos montes de terra que quase ficam lado a lado com os carros no viaduto. A cena se repete ininterruptamente na inusitada pista de BMX construída entre as duas pontes que ligam a avenida dos Bandeirantes à marginal do Pinheiros. Num dos pontos de fluxo de carrros mais intensos na capital, são as bikes que se destacam.

O espaço começou a ser desejado pelos bikers quando a única pista oficial da cidade, na Mooca, foi fechada em 2007 para construção de um complexo viário. O processo demorou, e só este ano os caminhões de terra começaram a chegar ao pico. "Isso aqui era um espaço abandonado, cheio de caminhões depenados", conta o idealizador da pista, Max Meirelles. "É maravilhoso ver um monte de terra virar uma escultura. Não tem engenheiro ou arquiteto que faça ou reproduza uma planta de BMX. Só o piloto, alguém que tenha muita experiência na prática, para construir."

Quando a reportagem da Trip esteve na pista, não faltavam voluntários com pás nas mãos para garantir que as rampas virassem as tais esculturas perfeitas para as bikes. "Na década de 80 tínhamos quatro pistas só na capital. Eram 1.200 atletas oficiais, e mais de 10 mil praticantes amadores", lembra Paulo Peres, atual técnico da equipe brasileira de BMX e especialista em construção de pistas. "Vale lembrar que, desde os Jogos de Pequim, o BMX é um esporte olímpico", completa.

A ideia agora é fazer do espaço um complexo de esportes radicais, com pistas de skate e patins. Isso se tudo correr conforme o planejado, já que a área ainda não está 100% garantida. Max explica: "Existia um projeto de ampliação da Bandeirantes, que incluía uma ponte aqui, mas foi parado. Vamos ver o que vale, se é o lazer da comunidade ou mais espaço para automóveis".