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Reinaldo Pamponet, Luiz Soares e Guido Lemos

por Fernanda Danelon

O empreendedor social e os autores do Ginga falam sobre Brasil e tecnologia de ponta

Ícone de Salvador, o Pelourinho sediou o quarto encontro entre homenageados do Prêmio Trip Transformadores 2010. Reinaldo Pamponet, empreendedor social, e a dupla Luiz Fernando Gomes Soares e Guido Lemos, engenheiros da computação, conversaram sobre o talento brasileiro pra desenvolver tecnologia de ponta e misturá-la com outros ingredientes nacionais como diversidade, capacidade criativa e trabalho coletivo.

Em meio ao casario colonial, debaixo de um cajazeiro, o trio chamou a atenção para o potencial revolucionário dos recursos da tecnologia da informação (TI): “As redes sociais da internet estão reconfigurando o mundo. A TI quebrou a barreira espacial, encurtando a distância entre as pessoas e permitindo que elas compartilhem e potencializem suas criações com alguém do outro lado do mundo”, diz Guido, 44 anos, professor e coordenador do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital da Universidade Federal da Paraíba.

“Pela primeira vez somos donos dos meios de produção”, concorda Reinaldo, 39, que desenvolveu a “sevirologia”, método de educação e distribuição de renda por meio da internet, que está sendo usado também na África do Sul e Índia.

Rio de Janeiro, Minas Gerais e parte do Nordeste são importantes polos da área da computação, sobretudo de softwares. Melhor exemplo disso é o Ginga, programa criado por Guido e Luiz Fernando, 56 anos, professor e coordenador do departamento de informática da PUC-Rio.

Adotado até agora pelo Brasil e por outros dez países, o Ginga possibilita a interatividade da internet com a TV digital. Além de ser tecnologia 100% nacional, seu grande mérito é ser software livre, de fácil aprendizagem e sem royalties. “A gente declarou nossa independência tecnológica”, observa Guido. Atualmente mais de 10 mil pessoas, de diversos países, contribuem para o seu desenvolvimento: “Não criamos o Ginga pra ser um monopólio do Brasil, mas sim pra universalizar o conhecimento”, diz Luiz Fernando.

Eletrocooperativa e servirologia

As maravilhas da TV digital não se limitam a incrementar a qualidade das imagens ou permitir a compra da blusa da personagem da novela. A televisão está entrando na internet e ganhou entrada USB, abrindo uma via de duas mãos.

O telespectador que antes só recebia a programação das emissoras poderá carregar seu próprio conteúdo em canais abertos de transmissão. “A democratização da informação não só possibilita ter acesso ao conhecimento, como permite gerá-lo. As pessoas estão se dando conta de seu potencial criativo, pois o conhecimento não está nas universidades. O futebol e o Carnaval não nasceram na sala de aula”, afirma Luiz Fernando.

Ninguém melhor do que Reinaldo pra comprovar isso. Natural de Salvador, o ex-executivo da Microsoft participou da implantação da internet no Brasil e recusou uma promoção na multinacional pra fundar, em 2003, o Instituto Eletrocooperativa. O local escolhido para sediar o projeto foi justamente o Pelourinho.

A ideia era juntar o tambor, representação da musicalidade local, com o computador, gravando em estúdio a produção musical dos jovens do bairro. “Era o beat e o bite, juntar cultura com computador”, conta Reinaldo, que no dia do encontro promovido pela Trip passava o bastão da Eletrocooperativa aos ex-alunos que agora cuidam da gestão do centro cultural.

Reinaldo ampliou horizontes. Desenvolveu um portal na internet que propõe perguntas aos internautas. As “chamadas criativas” convidam jovens de todo o país a desenvolver uma resposta em forma de conteúdo audiovisual: músicas, vídeos, programas de rádio, podcasts, fotografias, ilustrações, cartazes e textos. Os melhores são remunerados. Já são mais de 3 mil jovens trabalhando em rede, sendo que 60% deles recebem em dinheiro por sua produção.

Ao buscar respostas para as “chamadas criativas”, os internautas entram num processo autodidata, buscando referências e estudando o assunto. Se viram pra aprender, responder e ganhar por sua produção.

Como disse o educador Paulo Freire: “Se virar para vir a ser”. Daí o conceito de “sevirologia”, que já ganhou nome em inglês: “It’s Noon”. “É o momento quando o sol está no seu ponto mais alto e não faz sombra pra ninguém. Quando cada um encontra sua própria luz pra criar”, explica Reinaldo.

Entusiasmado, Guido propõe a Reinaldo uma união, trazendo a ideia de fazer as chamadas criativas na TV universitária da UFPB, para estimular a produção de conteúdo para sua programação. Logo os dois trocam contatos, pensando em continuar a troca de ideias para um possível projeto em comum. 

Saiba mais sobre o Prêmio Trip Transformadores

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