Uma noite para mudar pessoas

Sexta edição do Prêmio Trip Transformadores inunda de inspiração o Auditório Ibirapuera

por Ana Catarina Pinheiro em

A sexta edição do Prêmio Trip Transformadores inundou de inspiração o Auditório Ibirapuera no dia 24 de outubro. Cada um dos 11 homenageados encontrou seu caminho para seguir pelo mundo de forma mais inteligente e equilibrada. E suas histórias inspiraram e contagiaram os presentes

Às nove da noite de 24 de outubro, quarta-feira, as cortinas do Auditório Ibirapuera se abriram para uma jornada inesquecível: a sexta festa de premiação do Trip Transformadores. No cenário, venezianas de vários tamanhos lembravam imensas janelas, através das quais se iria vislumbrar as possibilidades de um futuro instigante, construído com muito suor transformador.

A primeira surpresa revelada por trás das venezianas foi a voz poderosa de Alice Caymmi. A capela, honrou a realeza da música brasileira da qual a neta de Dorival é indelével herdeira. O solo grave sintonizou a plateia na grande viagem que estava por vir: uma noite descontraída e emocionante, combustível para a inquietação e para a ação.

O cineasta Fernando Meirelles entregou o primeiro prêmio à médica Vera Cordeiro. Vera agradeceu emocionada, revelando sua motivação e os percalços do projeto focado em melhorar a qualidade de vida da família dos pacientes: “No começo, éramos dez pessoas em uma estrebaria, empenhadas em romper com o ciclo de doença, internação, reinternação e morte de crianças que adoeciam sem parar porque viviam em casas com goteiras, onde faltava comida, com pais alcoólatras e mães desesperadas”. Vera arrancou risadas da plateia contando das dificuldades em levar o sonho adiante: “Sei que o Itaú patrocina este prêmio, mas digo que eu estava pronta para assaltar um banco porque eu precisava de dez empregos para dar conta do que a gente queria: mudar o mundo”. O auditório veio abaixo. Na celebração, a missão de Vera já estava mais que cumprida.

A homenagem partiu da saúde das pessoas para a do planeta. Roberto Waack recebeu o prêmio das mãos de Artur Grynbaum – presidente do Grupo Boticário – pela atuação de vanguarda na economia do futuro. Sua empresa Amata, fundada com os sócios Ethel Carmona e Dario Guarita Neto, propõe a exploração sustentável da madeira e outros produtos da selva, treinando os moradores da floresta para executar esse trabalho. “A transformação é da ideia de que a floresta tem que ser destruída para ser rentável. A floresta tem muito mais valor em pé do que derrubada. Este prêmio traduz um movimento da sociedade: de que é preciso uma convivência mais harmônica entre a humanidade e a floresta”, sentenciou Waack. A festa seguiu ao som do surpreendente Guizado e do músico nova-iorquino Ilhan Ersahin. Em contraste com a MPB a capela de Alice Caymmi, eles encheram o auditório com uma música cosmopolita, sem rótulos definidos, acústica, elétrica e eletrônica, rock e jazz, progressiva e improvisada, pesada e enigmática.

Construindo pontes 

A diversidade musical abriu as portas para a terceira transformadora. Evelyn Ioschpe, presidente da Fundação Iochpe e do Instituto Arte na Escola, é especialista em construir pontes entre empresas e o terceiro setor. David Feffer, presidente do Grupo Suzano, entregou o prêmio a Evelyn testemunhando a eficácia das iniciativas encabeçadas por ela: “Na Suzano implementamos há sete anos o Formare [programa de capacitação profissional nas fábricas criado pela Fundação Iochpe]. Hoje já temos líderes na empresa que vieram do projeto”.

O quarto homenageado foi escolhido pelo público, uma novidade desta edição do Trip Transformadores proposta pelo Itaú. Rafael Vivolo foi o mais votado nas redes sociais do banco, entre três candidatos selecionados. É o idealizador da IdeaFixa, revista que busca fazer a ponte entre novos artistas e o mercado, e do Projetos de Garagem, que ajuda a tirar ideias do papel. Vivolo recebeu o prêmio de Eduardo Tracanella, superintendente de marketing institucional do Itaú Unibanco, como um atestado de que está no caminho certo: “Meus pais me apoiaram quando resolvi deixar a carreira de executivo para seguir meu sonho. Estar aqui hoje é a prova do sucesso dessa escolha”.

“A gente torce para que esse espírito que move o Trip Transformadores, que é a ideia de celebrar pessoas que perceberam que o todo é mais importante do que cuidar só do seu, se torne obsoleto. Estamos homenageando pessoas que estão fazendo uma coisa que deveria ser regra, e não exceção” Paulo Lima

Paulo Sergio Kakinoff, presidente da GOL Linhas Aéreas Inteligentes, entregou o prêmio a Ana Beatriz Pierre Paiva. Ela escreveu Mude o seu falar que eu mudo meu ouvir junto com seis colegas. O livro, o primeiro escrito por portadores da síndrome de Down, orienta como dialogar com pessoas com deficiência intelectual. Em agradecimento, Ana Beatriz deixou claro que estar no palco, falando por si própria, era uma grande conquista: “Todos os jovens com deficiência intelectual querem ter a palavra, falar por si mesmos. Antes a gente não tinha isso. Agradeço à Trip por esta oportunidade de falar em nome do meu grupo”.

A diversidade de temas e interlocutores seguiu com a apresentação da paraense Luê, interpretando “Baila comigo”, música de Rita Lee, a mais paulista entre as cantoras brasileiras.

Na sequência, o diretor superintendente da Trip, Carlos Sarli – o Califa –, e Fernando Luna, diretor editorial, entregaram o prêmio a Gabriela Leite, militante mais ativa dos direitos das profissionais do sexo no Brasil. Gabriela, emocionada, se identificou com a homenageada anterior, Ana Beatriz: “Me senti muito próxima a ela, tão diferente e tão próxima. Nunca falamos por nós mesmas. Quando comecei a luta pela dignidade das prostitutas não falávamos por nós mesmas. Os outros falavam por nós. Eu queria que a gente aparecesse como eu estou aqui hoje”. Com bom humor, agradeceu: “Eu viajo muito e sempre quis aparecer naquela seção Em Trânsito, da revista da GOL, que fala das pessoas em viagem, o que fazem e para onde vão. Queria dizer: ‘Meu nome é Gabriela Leite e estou indo para um encontro de putas’. Nunca me entrevistaram, mas por causa do prêmio fizeram uma matéria com o título ‘A puta que pariu um sonho’. Muito obrigada à Trip pelo prêmio e por estar na revista da GOL”. Com o público às gargalhadas, o apresentador Lee Taylor se despediu da homenageada.

O cartunista Laerte foi chamado ao palco pelo ator Gero Camilo e por Marcello Serpa, sócio e diretor de criação da Almap BBDO, que traduziu muito bem a ideia de que a transformação começa dentro de cada um: “Laerte quer melhorar a sua vida, ser aceito pelo que é, e, com isso, luta por tantos outros que não pertencem a nenhuma convenção estabelecida. Não há nada mais adequado ao prêmio do que uma pessoa que se transformou e usou sua luz própria para lançar luz sobre outros”. O cartunista subiu ao palco assombrado pelo impacto de sua transformação íntima e pessoal: “Eu estava até agora me perguntando por que recebi este prêmio. Todo o processo me deixou inquieta. Estou no meio de pessoas que criaram pontes de transformação. Eu me assombro ao ver que o meu processo de transformação toca as pessoas. O que me leva a pensar não só no meu umbigo, mas nos umbigos que tenho encontrado por aí”.

A atriz Isabel Fillardis recebeu a homenagem das mãos de sua colega de profissão Bárbara Paz. Isabel contou como fundou, há dez anos, ao lado do marido, uma iniciativa de geração de renda por meio de reciclagem. O Instituto Doe Seu Lixo tem hoje a primeira usina de reciclagem do país, foi responsável pelo lixo da Rio+20 e é um grande orgulho para Isabel: “Pra mim, mais importante do que ser atriz é ter bolado um projeto como esse. Eu sou atriz há 20 anos e nunca recebi um prêmio. Com esse projeto, que tem dez anos, já recebi alguns. Acho que isso quer dizer alguma coisa”.

Tornado musical

A festa continuou com a sonzeira de um dos maiores expoentes vivos da musica black brasileira. Tony Tornado balançou a noite e já ficou no palco ao lado do colega Criolo para entregar o próximo prêmio. Quem recebeu a homenagem, dessa vez, foi o antropólogo e escritor Luiz Eduardo Soares. Seus livros humanizam o sofrimento das vítimas anônimas da violência, perdidas entre os interesses políticos, a ação criminosa e a corrupção policial. Pelo livro A elite da tropa, que inspirou o filme brasileiro de grande repercussão, Luiz Eduardo virou símbolo de coragem.

O homenageado seguinte, Marcos Evangelista de Morais – o Cafu –, veio ao palco para receber o prêmio das mãos da atriz Miá Mello e de Vasco Luce, presidente da PepsiCo Bebidas – América do Sul. Falou emocionado sobre as quase mil crianças beneficiadas pela Fundação Cafu, cuja sede foi construída no Jardim Irene no mesmo ano do pentacampeonato da Seleção brasileira. O capitão do penta contou do seu sonho em gerar oportunidades aos moradores do bairro de onde ele saiu para conquistar o mundo. “Esta homenagem é ótima porque vem coroar toda dedicação e trabalho desses anos todos. Isso faz você levar ainda mais seriedade para o seu trabalho”, celebrou o ex-jogador.

O último a iluminar a noite foi Joás Brandão. Depois de receber o prêmio das mãos da apresentadora Didi Wagner e de Leandro Radomile, presidente da Audi no Brasil, relatou a saga de proteger o cerrado da Chapada Diamantina dos incêndios, mesmo com pés descalços. Brigadista guerreiro e ambientalista de coração, Joás acredita na defesa do meio ambiente mesmo que não haja apoio institucional: “Não podemos esperar pelos políticos. Se eles apoiarem, bem, se não apoiarem, quem vai cuidar do nosso quintal? Quando você acredita em um ideal, tem que seguir em frente. É uma luta constante para preservar a nossa mãe Terra”. Terminou, emocionado, cantando um mantra indígena. Fez a plateia cantar junto e se abraçar.

Foi a deixa para encerrar a festa. Voltaram ao palco Alice Caymmi, Luê, Guizado, Ilhan Ersahin e Tony Tornado cantando o hino black “Podes crer, amizade” e botaram nossa alma para secar, lavadinha e pronta para transformar.

Tony Tornado no palco

A hora da festa
Artistas, empresários, colaboradores da Trip e centenas de outros corações e mentes unidos em torno da vontade de construir um futuro mais humano tomaram o Auditório Ibirapuera na noite de premiação

“Foi uma noite muito gostosa, o público foi maravilhoso. Espero ser convidado outras vezes para vir.” Tony Tornado, cantor e ator

“O prêmio estimula as pessoas com vontade de fazer algo pelo outro e pelo planeta para que se lancem ainda mais à frente, em coisa úteis a toda a sociedade.” Abílio Diniz, empresário

“O evento amplia a divulgação dessas pessoas que fazem trabalhos empolgantes e que emocionam todo mundo.” Carlos Sarli, cofundador e diretor superintendente da Trip

“Parabéns por terem conseguido consolidar uma premiação tão importante, interessante e única! Adorei!” Didi Wagner, apresentadora

“Já são mais de 60 premiados. Mas sempre tem muita gente para premiar. O difícil nunca é encontrar histórias boas, mas deixar figuras incríveis de fora.” Fernando Luna, diretor editorial da Trip

“Esse prêmio me fez repensar tantos valores dentro de mim. É quase uma análise.” Bárbara Paz, atriz

“Quando a gente criou o prêmio, nossa dúvida era quanto tempo ia durar o estoque de pessoas incríveis para homenagear no Brasil. Nosso aprendizado é que essas pessoas brotam e se reinventam o tempo todo. Não tem perigo desse estoque acabar.” Paulo Lima, editor da Trip

“Você percebe que tem muita coisa interessante acontecendo no Brasil. Este ano, vim com uma das nossas meninas. Espero que ela saia inspirada e seja uma transformadora um dia.” Amyr Klink, explorador

“O prêmio vai evoluindo. Sempre tem um elemento novo, uma surpresa. O desafio é ter um projeto que continue tocando as pessoas e fazendo com que elas se sintam inspiradas a fazer um movimento de transformação.” Ana Paula Wehba, diretora de projetos especiais e eventos da Trip

“São poucas as publicações que têm preocupação em homenagear o que é feito pelo social. Isso faz mais sentido do que nunca. Na área de cultura, vejo que as pessoas estão muito ligadas em fazer coisas coletivamente. A Trip tem um papel fundamental por trazer o seu olhar para isso.” Daniel Ganjaman, músico

“A Trip identifica seres humanos maiores, melhores e diferenciados. É uma iniciativa espetacular.” Álvaro Coelho da Fonseca, empresário

“Estive em todas as edições do prêmio. É muito legal ver que é o sexto ano e continua idêntico no sentido de emocionar as pessoas e trazer mais consciência. Todo mundo sai muito lúcido de que tem metas a alcançar.” Carlos Motta, arquiteto, membro do conselho editorial da Trip

“O prêmio é genial, uma iniciativa de juntar cabeças pensantes e corações generosos visando um futuro melhor. Sempre que posso, venho aplaudir pessoalmente.” Luana Piovani, atriz

“Fiquei tocada com cada uma das histórias. Estou muito feliz de ter participado de uma premiação tão importante.” Miá Mello, atriz

Trip Transformadores foi incrível, todos por um mundo melhor.Valeu, Trip!” Pedro Scooby, surfista

“O Transformadores premia boas ideias. Não tem aquela competição de cinco indicados, em que um se dá bem e os outros quatro se ferram. É o melhor prêmio que existe.” Fernando Meirelles, cineasta

“Simplesmente inexplicável. O que vocês fazem, ninguém sabe fazer. Enorme orgulho.” Paulo Kakinoff, presidente da GOL

“É uma lição de vida. Venho como cidadão, pensando em como a gente faz pouco como empresário. A vontade é de fazer muito mais. Saio com a energia renovada.” Vasco Luce, presidente da PepsiCo Bebidas – América do Sul

“Além de fugir do óbvio na escolha dos homenageados, o prêmio traz pensamentos novos e essa consciência coletiva que a Trip faz tão bem.” João Paulo Diniz, empresário

“Muito digno por parte de vocês dar voz a essas pérolas humanas que a gente nem conhece nem sabe que existem. Demais, rapaziada, great job mesmo.” Fernando Costa Netto, jornalista, fotógrafo e empresário

“Os prêmios foram todos muito interessantes, em áreas diversas, com personalidades fortes e impactantes. A fala de abertura, impecável! Parabéns.” David Feffer, presidente do Grupo Suzano

“A ideia do evento é viver um momento único com pessoas especiais. É abrir essa caixa de ideias, mostrar pessoas que com muito pouco fizeram grandes transformações.” Marcello Dantas, diretor artístico do prêmio e membro do conselho editorial da Trip

“O prêmio traz luz para pessoas que ficam escondidas da mídia. É um papel social que a Trip faz de maneira espetacular.” Marcello Serpa, sócio-presidente e diretor de criação da AlmapBBDO e membro do conselho editorial da Trip

“É uma iniciativa fundamental para avançarmos na construção de uma sociedade brasileira mais solidária. É o reconhecimento de pessoas que trabalham nessa perspectiva.” Marcelo Araújo, secretário de cultura do estado de São Paulo

“Adorei o Transformadores, mais uma vez. Fiquei emocionado dentro de um espectro superamplo. Da gargalhada às lágrimas. É sempre uma noite maravilhosa.” Carlos Nader, documentarista


“Transformadores são formigas que cantam e cigarras que trabalham. São pessoas que resolvem doar uma parte importante do que elas aprenderam ao coletivo.” Chico César, músico e secretário de cultura da Paraíba

“Sinto, a cada ano, o prêmio ganhando corpo e engordando a onda do bem e da transformação. Parabéns, e obrigado pela oportunidade de fazer parte disso.” Eduardo Tracanella, superintendente de marketing institucional do Itaú Unibanco

“Queria parabenizar essa capacidade da Trip de mostrar tantas pessoas legais que ajudam os outros. Isso motiva todas pessoas que vieram aqui a tomar atitudes como essas.” Rico de Souza, surfista

Crédito: Ezyê Moleda, Samuel Esteves, Nelson Mello e Ricardo Toscani
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Arquivado em: Trip Transformadores / Ativismo